sábado, 18 de junho de 2011

Continuo Morrendo...

A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nos enquanto vivemos.
Pablo Picasso!

sábado, 11 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

MANEIRA DE AMAR




O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.

Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mando-o embora,depois de assinar a carteira de trabalho.

Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem.

"VOCÊ O TRATAVA MAL, AGORA ESTÁ ARREPENDIDO?" "NÃO, RESPODEU, ESTOU TRISTE PORQUE AGORA NÃO POSSO TRATÁ-LO MAL. É A MINHA MANEIRA DE AMAR, ELE SABIA DISSO, E GOSTAVA".


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 26 de maio de 2011

MUSEU E MEMÓRIA




UM CRUZEIRO MEMORIAL
ERILAINE PEREZ

Três lances de escadas. Isso é tudo o que precisamos vencer para empreender uma viagem fascinante. Bilhete comprado, o flutuar promete a mesma sensação enigmática do panorama visto através das vítreas claraboias. Sim! Jamais esqueceremos o prazer das descobertas do percurso carregado de simbologia. O destino desse cruzeiro histórico são ilhas ancestrais. A guia, carinhosamente batizada “Memória”, testemunha ocular de tempos passados, orienta a visão de cada coisa para se fazer entender por nós, os que viemos depois. Fala da religião que maculou a inocência dos primeiros habitantes, roubando-lhes a identidade. Das ruas de terra marcadas por rodas de carroça. De batalhas empreendidas a ferro e fogo, de heróis decapitados e da paz estabelecida pela caneta tinteiro e pelo papel. Conta dos laços tramados pelo trabalho e pela amizade entre homem e cavalo. Dos aparelhos que cunharam moedas que compravam tudo, até a liberdade. Dos escravos que esculpiram altares para rogar por igualdade. Lembra de intelectuais que pensaram máquinas para eternizar em letras suas angústias e ideais. E das lindas canções tocadas ao som de um pandeiro de prata. Dos empreendedores que trouxeram o computador para facilitar o dia a dia do trabalho. E dos desenhistas, poetas, médicos, políticos e tantos outros que, pelo seu fazer, deixaram algo para que nos lembrássemos de um tempo que transformou este em que vivemos. Muitos já aceitaram o convite, venceram as escadas, compraram o bilhete, empreenderam a viagem. Mas esse barco, chamado Museu Pedro Palmeiro, continua a nossa espera, ancorado no porto da Cidade Educadora e está sempre pronto para realizar a travessia, que só acontece nas profundezas dos nossos olhos, nascente do mar das Memórias da Terra dos Poetas.


Erilaine Perez é Produtora Textual e Coordenadora do Museu Municipal Pedro Palmeiro.

Contatos:
Museu Municipal Pedro Palmeiro
Rua Pinheiro Machado, nº. 2291 - 3º piso do Centro Cultural.
Telefone (55) 3251-1651
E-mail: museudsantiago@gmail.com

Visite!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

CAIO F - que muito amou.




Há 15 anos, no dia 25 de fevereiro de 1996, o criador do “Passo da Guanxuma”, o escritor Caio Fernando Loureiro de Abreu despediu-se do mundo terreno deixando um luminoso rastro, que se faz resplandecer em cada obra sua.

É considerado um dos expoentes da literatura contemporânea. Sua ficção se desenvolveu acima dos convencionalismos de qualquer ordem, evidenciando uma temática própria, juntamente com uma linguagem fora dos padrões considerados “normais”.

Intenso, autêntico e atual. Um amante da palavra, que busca com sua obra obter as emoções do leitor, expor o cotidiano com sua imaginação florida e perfumada. Isso é algo que não tem data de validade, sendo uma das razões de tamanha identificação da juventude atual com sua escrita e fenômeno de popularidade na internet.

Segundo o professor de Letras da UNESP, Arnaldo Franco Júnior, em entrevista ao Jornal Pernambucano (26/02/2011): “o suporte eletrônico permitiu uma divulgação sem precedentes da obra dele”, tornando-o figura cativa nas redes sociais como Orkut, Facebook, Twitter e Blogs.

Já escritora Lygia Fagundes Telles lhe concedeu o título de “Escritor da Paixão”, justamente por conseguir tocar o humano com sua técnica de escrita, recheada de recursos, falando de sentimentos e aspirações de homens e mulheres, das experiências do viver urbano contemporâneo e por ter “a paixão da linguagem e a linguagem da paixão” (TELLES, 1995).

Por todo o Brasil, o dia 25 deste mês, foi marcado por homenagens a memória de Caio F., basta realizar uma rápida pesquisa na internet para constatar a importância que é atribuída à obra desse escritor que brincou com as palavras numa busca prazerosa pela escrita, feita como um trabalho alquímico, vindo a reforçar a idéia que “escrever é abalar o sentido de mundo” (BARTHES, 1987).

Cada vez mais, os palcos se iluminam para receber seus textos, os quais inspiram novas montagens, emocionam recebendo calorosos aplausos de platéias de diferentes sotaques. “Ano após ano, Caio continua a suscitar montagens teatrais. E, quase invariavelmente, o que se vê em cena não são os enredos de sua dramaturgia – que ele mesmo reconhecia como uma parcela menor de sua obra – mas seus contos. Nessas narrativas curtas, textos em que o autor alçou a si mesmo à categoria de personagem, diretores e atores continuam a encontrar matéria-prima para suas encenações”, como argumenta Maria Eugenia de Menezes em matéria do Jornal Estado de São Paulo, caderno Cultura de 25/02/2011.

Aqui em Santiago, a partir da inauguração da Estação do Conhecimento que conta em seu pavimento superior com o Memorial dos Poetas, os painéis do Caio são uns dos mais visitados e fotografados, destacando o que contém a crônica “Raiz do Pampa”. Chama atenção a admiração contagiante de um público cada vez mais cativo e que faz com que o autor tenha recebido, periodicamente, rosas e inúmeros beijos em suas fotos.

Como Caio F. dizia:

“É difícil aprisionar os que têm asas”.


Referências:

Barthes. In: Sobre Racine. Prefácio. Trad. Antonio C. Viana. Porto Alegre. L&PM, 1987. p. 5

JORNAL DIÁRIO PERNAMBUCANO. Para Sempre Caio. (26/02/2011) por Carolina Santos.

JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO – Caderno Cultura: No palco, 15 anos sem Caio Fernando Abreu. (25/02/2011) por Maria Eugênia de Menezes.

TELLES, Lygia F. Autor tem o sonho como vocação. In: O Estado de São Paulo. Caderno 2. 09 de dezembro de 1995.