Sobre o aspecto da acessibilidade e sua importância para o turismo nos dias atuais. Seria possível pensar em um turismo sem tal preocupação?
Não há como negar que o Turismo apresenta um dos maiores índices de crescimento entre as atividades econômicas nas últimas décadas e isso fez com que ele se tornasse cada vez mais profissionalizado na busca de se estabelecer como atividade principal ou alternativa para o desenvolvimento sócioeconômico de cidades e regiões.
Dentro do eixo social, o Turismo, está num crescente debate. Principalmente quando se trata ao acesso à experiência turística às pessoas com deficiência (PcD como abordamos durante as aulas) e mobilidade reduzida. Segundo o Manual de Orientações de Turismo e Acessibilidade do Ministério do Turismo de 2006, p. 08: “Projetar a igualdade social pressupõe garantir a acessibilidade a todos, independente das diferenças, e entender a diversidade como regra e não como exceção.” Assim, essa concepção nos leva a pensar e questionar sobre o caráter que a acessibilidade possui na ação efetiva, seja do Estado ou da iniciativa privada, voltando nosso olhar para o Turismo que engloba prestação de serviços, atividades, transportes, comunicação, equipamentos e mobiliário urbano.
Portanto, acredito que na atualidade é impossível pensar em um Turismo sem a preocupação, tanto da garantia de acesso, quanto da abrangência da acessibilidade. E isso tornou-se difundido, principalmente após 2003 do encontro realizado na Espanha e que gerou o “Manifesto por un Ócio Inclusivo”, o qual, no artigo 15 nos fala: “No âmbito do turismo, devem ser garantidas as condições de acessibilidade global das infra-estruturas e espaços turísticos e impulsionar a possibilidade real para que todas as pessoas participem das ofertas de diversos turismos temáticos.”
A proposta de uma Acessibilidade Global ou Universal, como abordam alguns autores, é de que a condição de acessibilidade deve ser estendida a qualquer serviço, produto ou entorno, sem exceção e que todos e todas, sejam quais forem suas condições, devem ser considerados nela. Garcia (2008, p.53) aborda que “entende-se que a acessibilidade universal inclui a ideia de conhecer sem barreiras tudo o que se cria ou se desenha novo, mas também incorpora a adaptação progressiva daquilo que já está feito mas que coloca barreiras para a utilização de todos.”
O Novo Turismo faz parte desse desenho, na medida em que se deva pensar e planejar o atendimento das necessidades dos turistas e das regiões receptoras. Discutimos durante as aulas do Curso de Turismo Acessível a dimensão da sustentabilidade e da hospitalidade nesse processo e vimos que se constitui em um diferencial, sendo importante a participação da comunidade local em todas as fases do desenvolvimento turístico, indo desde a estruturação dos produtos, até o retorno dos recursos vindos da atividade.
O Ministério do Turismo apresenta três dimensões para que uma região se desenvolva através do Turismo: o humano, o físico e o social, e em ambas podemos perceber a importância da acessibilidade. Não só do esclarecimento desta concepção, mas da informação, do debate e principalmente das ações, que ultimamente é o que está em falta. Gosto de usar as palavras de Carlos Drummond de Andrade ao falar que “as leis não bastam. Os lírios não nascem da lei”, toda a vez que me deparo com este debate. Pois Têmis está com seus textos prontos a espera de ganhar vida, através da ação de homens e mulheres empreendedores e visionários da construção de um mundo melhor, uma sociedade melhor e de pessoas melhores.
Enfim, acredito que acessibilidade é tanto a garantia de acesso a um prédio, a uma mensagem sonora, a possibilidade de interpretar um texto escrito, de um idoso conseguir chegar ao sexto andar de um Centro Cultural, de uma grávida entrar em um ônibus, de um cão guia frequentar um restaurante, de uma pessoa estrangeira entender a sinalização de um aeroporto, de uma pessoa obesa poder sentar em um quiosque beira mar, que possui suas tradicionais cadeiras de plástico, ou até mesmo de uma mãe poder locomover-se com um carrinho de bebê.
Já dizia Cazuza “o tempo não para”, o mundo está em constante transformação, as relações são dinâmicas e o reflexo de tudo isto está em nossas vidas, como também está em todas as áreas do desenvolvimento, nas redes sociais e no próprio Turismo frente aos desafios que a contemporaneidade nos apresenta.
Para finalizar não posso esquecer da poesia do dia, como mencionei Drummond, segue o fragmento de NOSSO TEMPO.
NOSSO TEMPO – Carlos Drummond de Andrade
I
Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.
Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.
Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras
, irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.
(...)
OBRAS CONSULTADAS
BRASIL. Ministério do Turismo. Manual de Orientações : Turismo e Acessibilidade, 2006.
GARCIA, Carla Cristina. Sociologia da Acessibilidade. Curitiba: IESDE, 2008.
Não há como negar que o Turismo apresenta um dos maiores índices de crescimento entre as atividades econômicas nas últimas décadas e isso fez com que ele se tornasse cada vez mais profissionalizado na busca de se estabelecer como atividade principal ou alternativa para o desenvolvimento sócioeconômico de cidades e regiões.
Dentro do eixo social, o Turismo, está num crescente debate. Principalmente quando se trata ao acesso à experiência turística às pessoas com deficiência (PcD como abordamos durante as aulas) e mobilidade reduzida. Segundo o Manual de Orientações de Turismo e Acessibilidade do Ministério do Turismo de 2006, p. 08: “Projetar a igualdade social pressupõe garantir a acessibilidade a todos, independente das diferenças, e entender a diversidade como regra e não como exceção.” Assim, essa concepção nos leva a pensar e questionar sobre o caráter que a acessibilidade possui na ação efetiva, seja do Estado ou da iniciativa privada, voltando nosso olhar para o Turismo que engloba prestação de serviços, atividades, transportes, comunicação, equipamentos e mobiliário urbano.
A proposta de uma Acessibilidade Global ou Universal, como abordam alguns autores, é de que a condição de acessibilidade deve ser estendida a qualquer serviço, produto ou entorno, sem exceção e que todos e todas, sejam quais forem suas condições, devem ser considerados nela. Garcia (2008, p.53) aborda que “entende-se que a acessibilidade universal inclui a ideia de conhecer sem barreiras tudo o que se cria ou se desenha novo, mas também incorpora a adaptação progressiva daquilo que já está feito mas que coloca barreiras para a utilização de todos.”
O Novo Turismo faz parte desse desenho, na medida em que se deva pensar e planejar o atendimento das necessidades dos turistas e das regiões receptoras. Discutimos durante as aulas do Curso de Turismo Acessível a dimensão da sustentabilidade e da hospitalidade nesse processo e vimos que se constitui em um diferencial, sendo importante a participação da comunidade local em todas as fases do desenvolvimento turístico, indo desde a estruturação dos produtos, até o retorno dos recursos vindos da atividade.
O Ministério do Turismo apresenta três dimensões para que uma região se desenvolva através do Turismo: o humano, o físico e o social, e em ambas podemos perceber a importância da acessibilidade. Não só do esclarecimento desta concepção, mas da informação, do debate e principalmente das ações, que ultimamente é o que está em falta. Gosto de usar as palavras de Carlos Drummond de Andrade ao falar que “as leis não bastam. Os lírios não nascem da lei”, toda a vez que me deparo com este debate. Pois Têmis está com seus textos prontos a espera de ganhar vida, através da ação de homens e mulheres empreendedores e visionários da construção de um mundo melhor, uma sociedade melhor e de pessoas melhores.
Enfim, acredito que acessibilidade é tanto a garantia de acesso a um prédio, a uma mensagem sonora, a possibilidade de interpretar um texto escrito, de um idoso conseguir chegar ao sexto andar de um Centro Cultural, de uma grávida entrar em um ônibus, de um cão guia frequentar um restaurante, de uma pessoa estrangeira entender a sinalização de um aeroporto, de uma pessoa obesa poder sentar em um quiosque beira mar, que possui suas tradicionais cadeiras de plástico, ou até mesmo de uma mãe poder locomover-se com um carrinho de bebê.
Já dizia Cazuza “o tempo não para”, o mundo está em constante transformação, as relações são dinâmicas e o reflexo de tudo isto está em nossas vidas, como também está em todas as áreas do desenvolvimento, nas redes sociais e no próprio Turismo frente aos desafios que a contemporaneidade nos apresenta.
Para finalizar não posso esquecer da poesia do dia, como mencionei Drummond, segue o fragmento de NOSSO TEMPO.
NOSSO TEMPO – Carlos Drummond de Andrade
I
Esse é tempo de partido,
tempo de homens partidos.
Em vão percorremos volumes,
viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.
Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
sobe ao ombro para contar-me
a cidade dos homens completos.
Calo-me, espero, decifro.
As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras
, irritadas, enérgicas,
comprimidas há tanto tempo,
perderam o sentido, apenas querem explodir.
(...)
OBRAS CONSULTADAS
BRASIL. Ministério do Turismo. Manual de Orientações : Turismo e Acessibilidade, 2006.
GARCIA, Carla Cristina. Sociologia da Acessibilidade. Curitiba: IESDE, 2008.