sexta-feira, 12 de abril de 2013

TURISMO E ACESSIBILIDADE

Sobre o aspecto da acessibilidade e sua importância para o turismo nos dias atuais. Seria possível pensar em um turismo sem tal preocupação? 

Não há como negar que o Turismo apresenta um dos maiores índices de crescimento entre as atividades econômicas nas últimas décadas e isso fez com que ele se tornasse cada vez mais profissionalizado na busca de se estabelecer como atividade principal ou alternativa para o desenvolvimento sócioeconômico de cidades e regiões.

 Dentro do eixo social, o Turismo, está num crescente debate. Principalmente quando se trata ao acesso à experiência turística às pessoas com deficiência (PcD como abordamos durante as aulas) e mobilidade reduzida. Segundo o Manual de Orientações de Turismo e Acessibilidade do Ministério do Turismo de 2006, p. 08: “Projetar a igualdade social pressupõe garantir a acessibilidade a todos, independente das diferenças, e entender a diversidade como regra e não como exceção.” Assim, essa concepção nos leva a pensar e questionar sobre o caráter que a acessibilidade possui na ação efetiva, seja do Estado ou da iniciativa privada, voltando nosso olhar para o Turismo que engloba prestação de serviços, atividades, transportes, comunicação, equipamentos e mobiliário urbano.

  Portanto, acredito que na atualidade é impossível pensar em um Turismo sem a preocupação, tanto da garantia de acesso, quanto da abrangência da acessibilidade. E isso tornou-se difundido, principalmente após 2003 do encontro realizado na Espanha e que gerou o “Manifesto por un Ócio Inclusivo”, o qual, no artigo 15 nos fala: “No âmbito do turismo, devem ser garantidas as condições de acessibilidade global das infra-estruturas e espaços turísticos e impulsionar a possibilidade real para que todas as pessoas participem das ofertas de diversos turismos temáticos.” 

A proposta de uma Acessibilidade Global ou Universal, como abordam alguns autores, é de que a condição de acessibilidade deve ser estendida a qualquer serviço, produto ou entorno, sem exceção e que todos e todas, sejam quais forem suas condições, devem ser considerados nela. Garcia (2008, p.53) aborda que “entende-se que a acessibilidade universal inclui a ideia de conhecer sem barreiras tudo o que se cria ou se desenha novo, mas também incorpora a adaptação progressiva daquilo que já está feito mas que coloca barreiras para a utilização de todos.”

O Novo Turismo faz parte desse desenho, na medida em que se deva pensar e planejar o atendimento das necessidades dos turistas e das regiões receptoras. Discutimos durante as aulas do Curso de Turismo Acessível a dimensão da sustentabilidade e da hospitalidade nesse processo e vimos que se constitui em um diferencial, sendo importante a participação da comunidade local em todas as fases do desenvolvimento turístico, indo desde a estruturação dos produtos, até o retorno dos recursos vindos da atividade.

 O Ministério do Turismo apresenta três dimensões para que uma região se desenvolva através do Turismo: o humano, o físico e o social, e em ambas podemos perceber a importância da acessibilidade. Não só do esclarecimento desta concepção, mas da informação, do debate e principalmente das ações, que ultimamente é o que está em falta. Gosto de usar as palavras de Carlos Drummond de Andrade ao falar que “as leis não bastam. Os lírios não nascem da lei”, toda a vez que me deparo com este debate. Pois Têmis está com seus textos prontos a espera de ganhar vida, através da ação de homens e mulheres empreendedores e visionários da construção de um mundo melhor, uma sociedade melhor e de pessoas melhores.

 Enfim, acredito que acessibilidade é tanto a garantia de acesso a um prédio, a uma mensagem sonora, a possibilidade de interpretar um texto escrito, de um idoso conseguir chegar ao sexto andar de um Centro Cultural, de uma grávida entrar em um ônibus, de um cão guia frequentar um restaurante, de uma pessoa estrangeira entender a sinalização de um aeroporto, de uma pessoa obesa poder sentar em um quiosque beira mar, que possui suas tradicionais cadeiras de plástico, ou até mesmo de uma mãe poder locomover-se com um carrinho de bebê.

 Já dizia Cazuza “o tempo não para”, o mundo está em constante transformação, as relações são dinâmicas e o reflexo de tudo isto está em nossas vidas, como também está em todas as áreas do desenvolvimento, nas redes sociais e no próprio Turismo frente aos desafios que a contemporaneidade nos apresenta.

 Para finalizar não posso esquecer da poesia do dia, como mencionei Drummond, segue o fragmento de NOSSO TEMPO.

 NOSSO TEMPOCarlos Drummond de Andrade

 I
 Esse é tempo de partido,
 tempo de homens partidos.

 Em vão percorremos volumes,
 viajamos e nos colorimos.
A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
 Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
As leis não bastam. Os lírios não nascem
 da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
na pedra.

 Visito os fatos, não te encontro.
Onde te ocultas, precária síntese,
penhor de meu sono, luz
dormindo acesa na varanda?
 Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo
 sobe ao ombro para contar-me
 a cidade dos homens completos.

 Calo-me, espero, decifro.
 As coisas talvez melhorem.
 São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto.
 Tenho palavras em mim buscando canal,
são roucas e duras
, irritadas, enérgicas,
 comprimidas há tanto tempo,
 perderam o sentido, apenas querem explodir.
 (...)

  OBRAS CONSULTADAS

BRASIL. Ministério do Turismo. Manual de Orientações : Turismo e Acessibilidade, 2006.

 GARCIA, Carla Cristina. Sociologia da Acessibilidade. Curitiba: IESDE, 2008.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Santiago: A Poesia de uma Cidade Educadora.

“A cidade deve saber encontrar, preservar e apresentar sua identidade pessoal e complexa. Esta a tornará única e será a base de um diálogo fecundo com ela mesma e com outras cidades.”

Art. 7º da Carta das Cidades Educadoras


A cidade de Santiago, na região central do estado do Rio Grande do Sul – Brasil, está em processo de consolidação de sua identidade cultural a partir da denominação de “Terra dos Poetas”. Ao voltarmos o olhar para a tela elaborada por Clio, veremos a justificativa de uma cultura poética entrelaçada a formação sócio-histórica, mediante o expressivo número de talentos que nasceram ou adotaram esta terra e a orgulham com suas produções.

Passamos do Povinho do Boqueirão para Freguesia de Sant’ Iago e depois de Vila para Cidade, e em todos esses momentos históricos ficaram registros de uma vocação literária, como expressa Constantino (1984, p.15) que para “sentir a paisagem missioneira, mais especificamente, sentir a base física em que os santiaguenses estão assentados, seria pertinente e interessante mas exigiria, com propriedade, alguma inspiração poética.”

Assim, na historicidade de nossas raízes emerge a necessidade de trazermos ao palco da vida, personagens, vozes e fazeres que justificam a alcunha de “Terra do Poetas”, oficializada pela Lei de Número 046/98 de autoria do então vereador Nelson Peraça Abreu e reconhecida estadualmente a partir do Projeto de Lei de Número 90/2008.

É importante lembrar que quando falamos em “Terra dos Poetas” estamos retomando a compreensão grega da “Poiesis”, que significou inicialmente criação, ação, confecção e depois passou a ser a faculdade poética, pois os poetas de Santiago são todos aqueles que se expressam artisticamente e fazem uso das diversas linguagens.

Saber reconhecer e explorar a identidade cultural e transformar os espaços urbanos em grandes cenários educativos é uma das obrigações das cidades que se comprometem com os princípios expressos na Carta das Cidades Educadoras.

Por essa razão que a cidade de Santiago ingressou na AICE (Associação Internacional de Cidades Educadoras) e busca integrar a memória e a produção de artistas como Caio Fernando Abreu, Aureliano de Figueiredo Pinto, Túlio Piva entre outros, aos espaços urbanos, planejando-os para o bem estar de seus habitantes, valorização da história local, desenvolvimento da cidadania e atrativo turístico e cultural.

Ao passear pela cidade, pode-se encontrar a história do município e de seus poetas na Estação do Conhecimento, que é o antigo prédio da Estação Férrea que foi revitalizado na proposta de intensificar a Educação Patrimonial, como também, caminhar pela Rua dos Poetas entre monumentos e memoriais, ler poemas e poesias nos muros, nas sacolas de compras, nas vitrines de lojas, no transporte coletivo e até mesmo encontrar poesia nos lanches e alimentos.

Para o sucesso destas propostas é necessário desenvolver o sentimento de pertencimento em relação a produção poética nos santiaguenses e isso não é algo que deve ser imposto por uma instituição ou pelo poder público, mas sim, acordado e debatido entre a sociedade e seus segmentos, pois como nos diz a Carta das Cidades Educadoras, em seu vigésimo princípio:

A cidade educadora deverá oferecer a todos os seus habitantes, enquanto objetivo cada vez mais necessário à comunidade, uma formação sobre os valores e as práticas da cidadania democrática: o respeito, a tolerância, a participação, a responsabilidade e o interesse pela coisa pública, seus programas, seus bens e serviços.


E esse é um processo que exige tempo, paciência, planejamento, trabalho contínuo e esperança na possibilidade de uma vida melhor com qualidade e comum a todos. Bem como, a compreensão que a educação ocorre no dia a dia, na vida da cidade e nas interações que realizamos nela e não somente na formalidade do interior dos muros escolares. Padilha (2010, p.11) coloca, em relação ao Programa Município que Educa, e que pode ser válido ao nosso entendimento ao relacionar que devemos ter:

um município onde poder público e sociedade civil trabalham juntos, de forma colaborativa e parceira, viabilizando o exercício da cidadania ativa. (...) Mas, fundamentalmente, deve ser um projeto coletivo que tem como ponto de partida um planejamento dialógico (comunicativo e crítico), compartilhado (com o envolvimento dos vários segmentos sociais) e ascendente (com atenção especial às demandas e à participação das bases da sociedade).


Pensar um projeto educativo de cidade é levar em conta as dimensões da vida humana em sua plenitude, oferecer uma maior compreensão da realidade local e oportunizar uma educação vinculada à necessidade de uma formação para o amanhã, que desenvolva o espírito empreendedor e a capacidade de transformar realidades e entornos.

Um exemplo disto, é o fato que ao passar dos anos reforçou-se o pedido da comunidade santiaguense pela geração de emprego e renda, visto que, a migração para centros produtivos, como a Serra Gaúcha, levou um grande número de jovens nesta busca e em suas bagagens, os sonhos e a esperança do crescimento profissional, estabilidade financeira e construção de futuros.

Como mudar esse cenário é o desafio da atual gestão municipal, onde o senhor Júlio Ruivo, ainda enquanto candidato ao cargo de prefeito, encontrou a possibilidade de uma mudança tendo o empreendedorismo como eixo central de seu Plano de Governo. Dolabela (2008, p. 61) nos diz que:

O empreendedorismo deve conduzir ao desenvolvimento econômico, gerando e distribuindo riquezas e benefícios para a sociedade. Por estar constantemente diante do novo, o empreendedor evolui através de um processo interativo de tentativa e erro; avança em virtude de descobertas que faz, as quais podem se referir a uma infinidade de elementos, como novas oportunidades, novas formas de comercialização, vendas, tecnologia, gestão, etc.


A partir de inúmeros estudos e do contato com experiências bem sucedidas, encontrou-se no Programa Cidade Educadora a base para a construção da visão de futuro do município de Santiago: “Ser referência em qualidade de vida”. Assim, a administração municipal preocupou-se em buscar a real compreensão de seus gestores e demais funcionários públicos sobre o que se pretende para o futuro e como transformar os espaços urbanos a partir de processos educativos, onde todos os habitantes são educadores.

Então, estratégias foram criadas: primeiro foram realizados cursos de formação de gestores, encontros formativos com secretários municipais, apresentação do programa em reuniões setoriais para funcionários públicos, por departamentos e secretarias, contato com experiências de outras cidades da rede e estudos teóricos, para então formar o Comitê Gestor do Programa Cidade Educadora.

O referido comitê é formado por um grupo de profissionais do poder público municipal, tendo um caráter multidisciplinar e procurando contemplar as diversas áreas do desenvolvimento local. Com reuniões periódicas, onde são definidas ações, realizado planejamentos integrados a plataforma de governo e aos princípios da Carta das Cidades Educadoras, como também, derivou a ordenação de oito metas municipais (1- Educação Ambiental, 2- Educação Fiscal, 3- Mobilidade e Planejamento Urbano, 4- Educação Patrimonial, 5- Município Saudável, 6- Participação Comunitária, 7- Promoção Humana e 8- Santiago Empreendedora), que devem ser trabalhadas em sintonia e parceria com a sociedade civil. Uma vez que:

A cidade educadora deverá fomentar a participação cidadã com uma perspectiva crítica e co-responsável. Para esse efeito, o governo local deverá oferecer a informação necessária e promover, na transversalidade, as orientações e as atividades de formação em valores éticos e cívicos. Deverá estimular, ao mesmo tempo, a participação cidadã no projeto coletivo a partir das instituições e organizações civis e sociais, tendo em conta as iniciativas privadas e outros modelos de participação espontânea. (9º Princípio da Carta das Cidades Educadoras)


Uma das formas de chamar a sociedade para participar desse processo de gestão foi a realização do Fórum Pró-Desenvolvimento de Santiago em abril de 2009. Onde os santiaguenses foram ouvidos e elencaram as prioridades concretas e sustentáveis para promover o Desenvolvimento Urbano, Econômico e Social, Educação e Saúde, em prol de um bem estar comum e almejando um futuro promissor a todos, que concretize os sonhos de uma cidade cada vez melhor para se viver e ser feliz.

O próximo passo, desse planejamento, é reforçar o compromisso do entendimento do que é uma Cidade Educadora e a importância da participação popular nesse processo de construção coletiva. Envolvendo as lideranças sociais, movimentos religiosos, instituições de ensino, clubes de serviço, ONGs, entre outros segmentos sociais, formalizando parcerias, estipulando metas e realizando avaliações e monitoramento de indicadores.

Algumas parcerias importantes já foram realizadas e possuem uma caminhada significativa junto à comunidade, como é o caso do Programa União Faz a Vida, do Sistema de Crédito Cooperativo (SICREDI), que objetiva construir e vivenciar valores e atitudes de cooperação e cidadania, por meio de práticas de educação cooperativa, sendo desenvolvido em parceria com a Rede Municipal de Ensino e trabalhado diretamente com os líderes de turma. Assim, como também, foi firmada a parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), primeiro com a aprovação de sua Lei Geral e posteriormente com a execução de um projeto pioneiro no Estado do Rio Grande do Sul, que pretende disseminar a Educação Empreendedora, passando desde a Educação Infantil, Fundamental, Ensino Médio e Superior. Formando e capacitando professores e gestores para o desenvolvimento de uma Pedagogia Empreendedora, que segundo Dolabela (2003, p. 31-32), baseia-se no entendimento de que empreendedorismo, pelo seu potencial como força importante na eliminação da miséria e na diminuição da distância entre as classes sociais, tem como tema central o desenvolvimento humano, social e econômico sustentável.

Outra Instituição que tem sido parceira e chamando para si o compromisso do desenvolvimento da cultura poética e a divulgação da identidade cultural de “Terra dos Poetas” é a Casa do Poeta de Santiago, Casa Caio Fernando Abreu, com a realização de Semanas Literárias, Concursos, Publicações, Cafezinhos Poéticos, Fórum Latino-Americano de Literatura Contemporânea e os Encontros de Escritores do MERCOSUL. Como foi o caso do V Encontro realizado nas cidades de Posadas (Argentina) e Encarnación (Paraguai), resultando nesta obra denominada “Diálogos Culturais” e tornando-se um momento de constante interação, troca de experiência e aproximação cultural e dos desejos de construção de uma sociedade mais humana, com igualdade, tolerância e respeito à diversidade.

A Cidade Educadora de Santiago participou do encontro apresentando sua caminhada, aqui sintetizada, e levou ao conhecimento dos participantes do evento o Projeto “SMEQUINHO”, que trata-se de um micro ônibus transformado em uma biblioteca infantil. O presente projeto é desenvolvido desde o ano de 2004, primeiramente tinha como objetivo desenvolver o gosto pela leitura através da ludicidade, com encenações, dinâmicas e horas do conto. Mas a partir do ano de 2010, durante a realização da 12ª Feira Municipal do Livro, o Smequinho passou a ser mais um instrumento de sensibilização do Comitê Gestor do Programa Cidade Educadora.

Atualmente a “biblioteca sobre rodas”, trabalha efetivamente a proposta da construção de Santiago enquanto uma Cidade Educadora, explorando as metas municipais a partir da literatura. Ou seja, na “Terra dos Poetas” é a literatura e suas personagens que ensinam a comunidade como transformar a sua cidade e melhorar a qualidade de vida de seus habitantes.

As atividades foram divididas em dois momentos distintos: Smequinho vai à Escola e Smequinho na Comunidade. No primeiro, conforme agendamento são atendidos os alunos das Escolas Municipais. Eles participam de atividades que exploram noções de Educação Patrimonial, Educação para o Turismo, Educação Ambiental, Educação Fiscal, Trânsito, Saúde e Higiene. No segundo momento, todas essas dimensões são trabalhadas em uma data comemorativa utilizando os espaços públicos da cidade e envolvendo a comunidade, criando a ideia de educar na cidade, com a cidade e para a cidade.

Os profissionais que dinamizam esse projeto fazem parte das diversas secretarias municipais, sendo que são coordenados pela Secretaria de Educação e Cultura. Mas a concepção que se quer é a de que todos somos educadores e o compromisso da construção de uma cidade realmente educadora depende da união de todos, procurando contemplar todas as áreas do desenvolvimento local. Essa é uma preocupação que a cidade de Santiago possui de não relacionar unicamente os processos educativos à educação formal, ou colocar nos ombros da Secretaria Municipal de Educação a responsabilidade de gestão do Programa Cidade Educadora.

Constatou-se que o projeto educativo de cidade depende da parceria da educação não-formal e informal para que haja uma abrangência significativa e produtiva. Por isso a cidade deve ser vista como um organismo vivo com enorme potencial educador e seus espaços devem refletir isso, assim como as imagens do urbano devem evidenciar o caráter educativo o qual a cidade se propõem.

Estamos dando início a esse processo, que depende do envolvimento da comunidade, pois deverá ser uma caminhada construtiva que evolua inerente a interesses particulares ou políticos partidários. Onde o que esteja em jogo seja o bem comum, disputado em uma partida coletiva e que cada gol possa ser comemorado de forma a unir, cada vez mais, corações e mentes a serviço de revolucionar a espécie humana e seu meio ambiente a partir da educação e do desenvolvimento prático da cidadania, indo além da limitação conceitual e ganhando vida em cada ação do dia a dia.

Alguns dos benefícios para a cidade e a população que aderem ao Programa Cidade Educadora, é poder mostrar sua cidade, seus programas, suas ações inovadoras, servir de exemplo, fazer parte de uma rede de cidades com uma filosofia comum, compartilhar experiências e formular projetos conjuntos com base nos princípios da Carta das Cidades Educadoras. Sendo que esta tem como base a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (1966), a Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) e a Declaração Universal sobre Diversidade Cultural (2001). Sendo que foi redigida inicialmente no I Congresso Internacional de Cidades Educadoras, realizado em Barcelona, em novembro de 1990, contendo os princípios essenciais ao impulso educador da cidade.

Posteriormente foi revista no III Congresso Internacional (Bolonha, 1994) e no de Gênova (2004), para que suas abordagens fossem adaptadas aos novos desafios e necessidades sociais.

Assim, acreditar, ousar, empreender e sonhar são algumas das ações que desejamos e semeamos no interior de cada ser humano que vive e constrói a cidade que temos, sendo agentes transformadores para a cidade que queremos. A “Terra dos Poetas”, sob a constante proteção e inspiração das Musas irmãs, Clio e Calíope, busca através da poesia despertar o caráter educador de cada cidadão santiaguense e convocá-lo para essa árdua, mas gratificante batalha em defesa do desenvolvimento e do bem comum.

Cidade Educadora: um compromisso coletivo, um sonho possível!


Referências Bibliográficas:

BUFFA, Ester. Educação e cidadania : quem educa o cidadão? São Paulo: Cortez, 2010.

Carta das Cidades Educadoras. Disponível em: http://www.pmsantiago.com.br/carta

CONSTANTINO, Núncia Santoro de. Santiago-RS; da concepção à maturidade em compasso brasileiro. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1984.

DOLABELA, Fernando. Oficina do empreendedor. Rio de Janeiro: Sextante, 2008.

____________________; Pedagogia empreendedora. São Paulo: Editora de Cultura, 2003.

FONSECA, Orlando. O fenômeno da produção poética. Santa Maria: editoraufsm, 2001.

FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Patrimônio histórico e cultural. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

FUNDAÇÃO SICREDI (Coord.). Conhecendo o programa a união faz a vida. Porto Alegre: Fundação SICREDI, 2008.

GÓMEZ-GRANELL, Carmen e VILA, Ignácio (Org.). A cidade como projeto educativo. Porto Alegre: Artemed, 2003.

Monográfico Asociación Internacional de Ciudades Educadoras. Ciudad, Deporte y Educación. AICE: Barcelona, Abril de 2010.

PADILHA, Paulo Roberto, CECCON, Sheila e RAMALHO, Priscila (Org.). Município que educa: múltiplos olhares. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2010.

Revista da Rede Brasileira de Cidades Educadoras. Reabilitação Urbana: A Cidade Inclusiva. Nº. 02, Abril de 2008.

STRIEDER, Roque. Educar para a iniciativa e a solidariedade. Ijuí: Ed. Unijuí, 2004.

Valores e diálogos para uma cidade educadora. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2010.

sábado, 18 de junho de 2011

Continuo Morrendo...

A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nos enquanto vivemos.
Pablo Picasso!

sábado, 11 de junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

MANEIRA DE AMAR




O jardineiro conversava com as flores e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são orgulhosos de natureza.

Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra a luz para não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou de regar o pé de girassol e de renovar-lhe a terra, na devida ocasião.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo parado diante dos canteiros, aparentemente não fazendo coisa alguma. E mando-o embora,depois de assinar a carteira de trabalho.

Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se conformava com a ausência do homem.

"VOCÊ O TRATAVA MAL, AGORA ESTÁ ARREPENDIDO?" "NÃO, RESPODEU, ESTOU TRISTE PORQUE AGORA NÃO POSSO TRATÁ-LO MAL. É A MINHA MANEIRA DE AMAR, ELE SABIA DISSO, E GOSTAVA".


Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 26 de maio de 2011

MUSEU E MEMÓRIA




UM CRUZEIRO MEMORIAL
ERILAINE PEREZ

Três lances de escadas. Isso é tudo o que precisamos vencer para empreender uma viagem fascinante. Bilhete comprado, o flutuar promete a mesma sensação enigmática do panorama visto através das vítreas claraboias. Sim! Jamais esqueceremos o prazer das descobertas do percurso carregado de simbologia. O destino desse cruzeiro histórico são ilhas ancestrais. A guia, carinhosamente batizada “Memória”, testemunha ocular de tempos passados, orienta a visão de cada coisa para se fazer entender por nós, os que viemos depois. Fala da religião que maculou a inocência dos primeiros habitantes, roubando-lhes a identidade. Das ruas de terra marcadas por rodas de carroça. De batalhas empreendidas a ferro e fogo, de heróis decapitados e da paz estabelecida pela caneta tinteiro e pelo papel. Conta dos laços tramados pelo trabalho e pela amizade entre homem e cavalo. Dos aparelhos que cunharam moedas que compravam tudo, até a liberdade. Dos escravos que esculpiram altares para rogar por igualdade. Lembra de intelectuais que pensaram máquinas para eternizar em letras suas angústias e ideais. E das lindas canções tocadas ao som de um pandeiro de prata. Dos empreendedores que trouxeram o computador para facilitar o dia a dia do trabalho. E dos desenhistas, poetas, médicos, políticos e tantos outros que, pelo seu fazer, deixaram algo para que nos lembrássemos de um tempo que transformou este em que vivemos. Muitos já aceitaram o convite, venceram as escadas, compraram o bilhete, empreenderam a viagem. Mas esse barco, chamado Museu Pedro Palmeiro, continua a nossa espera, ancorado no porto da Cidade Educadora e está sempre pronto para realizar a travessia, que só acontece nas profundezas dos nossos olhos, nascente do mar das Memórias da Terra dos Poetas.


Erilaine Perez é Produtora Textual e Coordenadora do Museu Municipal Pedro Palmeiro.

Contatos:
Museu Municipal Pedro Palmeiro
Rua Pinheiro Machado, nº. 2291 - 3º piso do Centro Cultural.
Telefone (55) 3251-1651
E-mail: museudsantiago@gmail.com

Visite!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

CAIO F - que muito amou.




Há 15 anos, no dia 25 de fevereiro de 1996, o criador do “Passo da Guanxuma”, o escritor Caio Fernando Loureiro de Abreu despediu-se do mundo terreno deixando um luminoso rastro, que se faz resplandecer em cada obra sua.

É considerado um dos expoentes da literatura contemporânea. Sua ficção se desenvolveu acima dos convencionalismos de qualquer ordem, evidenciando uma temática própria, juntamente com uma linguagem fora dos padrões considerados “normais”.

Intenso, autêntico e atual. Um amante da palavra, que busca com sua obra obter as emoções do leitor, expor o cotidiano com sua imaginação florida e perfumada. Isso é algo que não tem data de validade, sendo uma das razões de tamanha identificação da juventude atual com sua escrita e fenômeno de popularidade na internet.

Segundo o professor de Letras da UNESP, Arnaldo Franco Júnior, em entrevista ao Jornal Pernambucano (26/02/2011): “o suporte eletrônico permitiu uma divulgação sem precedentes da obra dele”, tornando-o figura cativa nas redes sociais como Orkut, Facebook, Twitter e Blogs.

Já escritora Lygia Fagundes Telles lhe concedeu o título de “Escritor da Paixão”, justamente por conseguir tocar o humano com sua técnica de escrita, recheada de recursos, falando de sentimentos e aspirações de homens e mulheres, das experiências do viver urbano contemporâneo e por ter “a paixão da linguagem e a linguagem da paixão” (TELLES, 1995).

Por todo o Brasil, o dia 25 deste mês, foi marcado por homenagens a memória de Caio F., basta realizar uma rápida pesquisa na internet para constatar a importância que é atribuída à obra desse escritor que brincou com as palavras numa busca prazerosa pela escrita, feita como um trabalho alquímico, vindo a reforçar a idéia que “escrever é abalar o sentido de mundo” (BARTHES, 1987).

Cada vez mais, os palcos se iluminam para receber seus textos, os quais inspiram novas montagens, emocionam recebendo calorosos aplausos de platéias de diferentes sotaques. “Ano após ano, Caio continua a suscitar montagens teatrais. E, quase invariavelmente, o que se vê em cena não são os enredos de sua dramaturgia – que ele mesmo reconhecia como uma parcela menor de sua obra – mas seus contos. Nessas narrativas curtas, textos em que o autor alçou a si mesmo à categoria de personagem, diretores e atores continuam a encontrar matéria-prima para suas encenações”, como argumenta Maria Eugenia de Menezes em matéria do Jornal Estado de São Paulo, caderno Cultura de 25/02/2011.

Aqui em Santiago, a partir da inauguração da Estação do Conhecimento que conta em seu pavimento superior com o Memorial dos Poetas, os painéis do Caio são uns dos mais visitados e fotografados, destacando o que contém a crônica “Raiz do Pampa”. Chama atenção a admiração contagiante de um público cada vez mais cativo e que faz com que o autor tenha recebido, periodicamente, rosas e inúmeros beijos em suas fotos.

Como Caio F. dizia:

“É difícil aprisionar os que têm asas”.


Referências:

Barthes. In: Sobre Racine. Prefácio. Trad. Antonio C. Viana. Porto Alegre. L&PM, 1987. p. 5

JORNAL DIÁRIO PERNAMBUCANO. Para Sempre Caio. (26/02/2011) por Carolina Santos.

JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO – Caderno Cultura: No palco, 15 anos sem Caio Fernando Abreu. (25/02/2011) por Maria Eugênia de Menezes.

TELLES, Lygia F. Autor tem o sonho como vocação. In: O Estado de São Paulo. Caderno 2. 09 de dezembro de 1995.