terça-feira, 1 de dezembro de 2009

A Fuga das Galinhas:

Planejamento como Necessidade de Mudança.

Rodrigo Neres de Morais


Muitas vezes me pergunto: Porque planejar? De que adianta tal ação? Esses questionamentos se fazem pertinentes, principalmente a quem trabalha com processos educativos, mas podem ser incluídos em qualquer aspecto da vida humana. Em situações cotidianas, que muitas vezes nos passam despercebidas e derivam, a priori, de um ato de planejar.

Os seres humanos são por natureza planejadores, estão sempre tentando concretizar seus desejos e aspirações que são anteriormente concebidos através de um processo de planejamento mental. Um fator muito importante e que não deve ser esquecido é a “possibilidade do planejamento”, ou seja, devemos analisar até que ponto é possível a concretização e a possibilidade de sucesso, tanto para a elaboração do planejamento, como para todas as outras etapas.

O Professor Celso Vasconcelos (1999, p. 51), enfatiza que “nenhuma pessoa de bom senso se envolve numa atividade sem previamente avaliar sua viabilidade.” Por essa razão faz-se necessário que o planejamento seja visto como um fator da vida, relacionado com o cotidiano dos homens e mulheres e, principalmente nos processos educativos deve ser encarado com responsabilidade e como recurso útil na melhoria da oferta do ensino, da aprendizagem e da construção de um mundo melhor.

É justamente esse “mundo melhor” que um grupo de galinhas sonha conquistar. Como assim galinhas? Calma, estou falando das personagens do filme de animação britânico “A Fuga das Galinhas”, do ano de 2000, com a direção espetacular de Peter Lord e Nick Park.

A história se passa na década de 50, numa granja de ovos da sinistra Senhora Tweedy, onde as galinhas são fadadas a viverem para a produção de ovos e quando isso não acontece é morte na certa.

Cansada com essa situação, a galinha protagonista Ginger, tece inúmeros planos para escapar das garras dos Tweedy, mas ela não pensa em sair sozinha. Só vai se todos forem com ela e se ela tiver a certeza que ficaram bem. No início é uma sucessão de fracassos, inúmeras tentativas frustradas, planos inviáveis, pois estava faltando algo muito importante: a definição de todas as etapas do planejamento. Como elas iam sempre de encontro a execução, já que era a grande problemática a fuga e a busca por liberdade, sempre tinha algum detalhe que passava despercebido e que pertencia há alguma outra fase anterior do planejamento, como a elaboração por exemplo, e isso acarretava no fracasso de todas as ações realizadas.

Ginger não percebeu que de tanto fracassar suas colegas começaram a perder o ânimo e talvez até duvidar se seriam capazes, se não era mais fácil aceitar aquela vida. Tanto que no filme isso fica evidente nas falas da galinha Bunty, que na maioria das vezes estava mal humorada e sempre tinha algo para contrariar ou fazer com que Ginger fosse desacreditada.

Quando tudo parecia perdido, eis que entra em cena o galante Galo Rocky, e sua entrada não foi de qualquer jeito não, ele entrou para o “campo de concentração aviário” simplesmente voando e aterrissando aos trambolhões. Ele foi o elemento que devolveu a esperança ao grupo e a perspectiva de uma conquista.

Rocky para conseguir tempo, para sair da enrascada que se meteu, já que dificilmente as galinhas conseguiram voar, como ele também não consegue, começa com uma prática de treinamentos e preparações para algumas outras frustrantes tentativas. Ah! E ele ainda tem que conseguir convencer, de suas boas intenções, ao velho galo Fowler, que demonstra muito medo e incerteza frente o novo, que é o que acontece na maioria dos casos na vida cotidiana humana.

Para motivá-las, Rocky, usa da diversão e distração, fazendo que as galinhas esqueçam por um momento sua situação fatídica e se alegrem com um bom som e muita dança. Mas com medo de sua fraude ser descoberta ele parte deixando as galinhas desorientadas, Fowler com a expressão “eu avisei” e Ginger desolada, já que estava mantendo um sentimento por ele.

Em meio a confusão aprontada, o clima esquentou e foram apontados vários culpados acabando tudo em um verdadeiro vale tudo na lama, até que Ginger é iluminada pelo ato de reflexão e busca na experiência velho Fowler uma oportunidade para conseguir o êxito da fuga. Primeiro elas passaram a elaborar detalhadamente cada ação, como poderia ser, de que forma, a quem competia a cada coisa.

Depois passaram para a execução das tarefas, cada um com uma atribuição específica e dentro de suas potencialidades e habilidades, assim somando esforços, vontade e desejos coletivos, como o impulso da volta de Rocky e as alianças necessárias com alguns colaboradores, as galinhas conseguem se organizar e superar suas dificuldades alcançando o tão sonhado paraíso.

Como elas conseguiram? Provavelmente repensaram suas ações e elaboraram seu plano de fuga seguindo cada passo destinado a um planejamento eficaz. Segundo ENRICONE (1989, p.13) “ O planejamento é um processo que consiste em preparar um conjunto de decisões, tendo tudo em vista o agir, posteriormente, para atingir determinados objetivos.”
Com a ajuda e visão de Ginger, o grupo pode constatar o diagnóstico da realidade em que viviam e projetar pontos de referência para saber por onde chegar no que queriam. Ao meu ver elas conseguiram o êxito porque colocaram em prática um planejamento composto por todas as partes: Marco Referencial, Diagnóstico e Programação, que seria a organização das ações.

COROACY (1972, p.79) reforça a idéia que:

“o planejamento é um processo que se preocupa com para onde ir e quais as maneiras adequadas de chegar lá, tendo em vista a situação presente e possibilidades futuras, para que o desenvolvimento da educação atenda tanto as necessidades do desenvolvimento da sociedade, quanto as dos indivíduos.”



Assim, pode-se observar as condições da realidade em que viviam, como conseguir instrumentos e ferramentas, que meios utilizar para fazer alianças, que recursos estão disponíveis, tanto humanos como materiais, ficando evidenciado nessa fase o Marco Situacional, o real. Já o Marco Doutrinal está na força do desejo, do sonho delas e na problemática da realidade: Para quê fugir? A onde chegaremos com isso? E finalizando o Marco Operacional aparece nas tomadas de decisões e posições do grupo: Como vamos nos organizar para conseguir? Ora de modo planejado e assumido por todos, pois todos são importantes e possuem contribuições valiosas para dar.

O filme “A Fuga das Galinhas” é um ótimo exemplo para se refletir sobre a importância do planejamento, se pensado em sua plenitude, e sobre os erros e falhas cometidas ao longo do processo. Tanto nas cenas, como nas falas das personagens pode ser explorado um leque de possibilidades de analise e discussão acerca do tema planejamento.

Decidi até em indicar esse filme para a Laura. Você conhece a Laura? Ela também é uma galinha, criada pela escritora Clarice Lispector que nos conta toda a “Vida íntima de Laura”. Quem sabe a Laura se inspira, ou se motiva a realizar uma mudança em sua vida, através de um planejamento voltado para a construção de um final diferente para a sua história. Pois segundo VASCONCELLOS (1999, p. 51) “a realidade que nos cerca, em função de suas gritantes e desumanas contradições, aponta para uma urgente necessidade de mudança”, eu estou aberto a encerrar esse desafio, e você está? Quem sabe damos as mãos e caminhemos juntos nesta jornada, aglutinando conhecimentos e experiências, começando devagar, com cautela, refletindo bem e seguindo confiante o caminho.

E quem disse que não conseguiremos mudar a realidade e construir um mundo melhor?


Referências:

COROACY, J. O Planejamento como Processo. In: Revista Educação, ano I, nº 4. Brasília: 1972.

ENRICONE, D. ET AL. Processo de ensino e avaliação. Porto Alegre: Sagra, 1989.

LISPECTOR, Clarice. A vida íntima de Laura. Rocco: Jovens Leitores.

VASCONCELLOS, C. dos S. Planejamento: Projeto de Ensino-Aprendizagem e Projeto Político – Pedagógico. São Paulo: Libertad, 1999.

Um comentário:

  1. Olá Rodrigo
    Parabéns pelo teu texto, esta é uma bela reflexão. Será que se todos nós planejássemos nossas ações não teríamos outros resultados na educação?? Eu acredito piamente que sim. Quero compartilhar dessa idéia, temos que dar uma presibilidade às ações para que elas se tornem eixos nos nossos projetos e os resultados sejam, no mínimo positivos. Um abraço!
    Eloí

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Olá, que bom poder contar com a sua visita. Volte sempre!