terça-feira, 21 de dezembro de 2010

A 12ª Feira do Livro Enquanto Cidade Educadora


A ponta do mistério

Pode ser ruim pensar apenas no presente
Pode ser pouco inconseqüente
Não se programar pra preparar um bom futuro
Pode ser um tiro no escuro
Pode ser também que a gente morra de repente
Pode ser um tanto deprimente
Não aproveitar os dias adiando a vida
Pode ser um tiro suicida
Deve ser tão bom levar a vida livremente
Deve ser bastante diferente
Não se acomodar, seguir em frente nessa estrada
Deve ser um tiro de largada

Gabriel O Pensador - Diário Noturno, 2010.


Durante os dias de 18 a 21 de novembro de 2010, aconteceu a 12ª edição da Feira Municipal do Livro no entorno da Praça Moysés Vianna, no centro da cidade de Santiago – A Terra dos Poetas. A realização deste evento, corresponde a uma das metas fixadas pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura, dentro do plano de ação articulado entre o comitê do Programa Cidade Educadora.

Essa meta consistia em vivenciar os princípios norteadores desse programa, transformando a praça central em um grande espaço educativo, onde através de ações práticas se construiu oportunidades educativas. Como também, serviu para o lançamento oficial das primeiras oito Metas Municipais a serem trabalhadas dentro da proposta de transformar Santiago em Cidade Educadora, buscando como visão de futuro: “Ser referência em qualidade de Vida”.

Assim, toda a organização da 12ª Feira do Livro, que teve como slogan: “Livros: janelas e portas que se abrem...” e patrono Jayme Camargo Piva, procurou constituir-se enquanto perspectiva participativa e educadora. Sendo desenvolvido um trabalho de sensibilização e orientação a todos os profissionais diretamente ligados a estrutura global da Feira. Desde a orientação sobre o Programa Cidade Educadora, seus princípios e trajetória histórica, exemplos práticos, até noções gerais da estrutura e programação da 12ª Feira do Livro.

Avaliando esse processo inicial, cabe ressaltar o quanto foi gratificante e perceptível ver quem internalizou e vivenciou o momento enquanto Cidade Educadora. Pois estavam entregues, suas expressões contagiavam, provavelmente por saberem o quanto o seu trabalho é importante para o sucesso do evento, sem falar na mudança de mentalidades em relação ao cuidado com o meio.

Inúmeros profissionais municipais vestiram a camiseta da Feira, da Cidade Educadora, mas essa camiseta não se restringe a das cinco cores diferentes com um logo. Essa camiseta é a da garra, da vontade de fazer, de querer o melhor, de contribuir, de participar, de orientar, de educar... Com isso percebeu-se que muitos projetos e programas municipais foram desenvolvidos e conseguiram passar seu recado e isso tudo de maneira articulada com o grande astro: O LIVRO.

Sempre temos algo a melhorar, e isso é normal, porém acredito que estamos no caminho certo, por isso não devemos desanimar na caminhada, por mais árdua que essa seja. Além dos setores municipais, também foi realizado o mesmo trabalho de sensibilização com inúmeros segmentos sociais. A fim de chamar a participação comunitária para vestir a camiseta da Cidade Educadora na Feira e isso rendeu bons resultados, pois cada um teve sua parcela de contribuição e participação no evento: seja Instituições de Ensino, Instituições Financeiras, Meios de Comunicação, Entidades Culturais e comunidade em geral.

É isso que esperamos que cada vez mais, os laços de cooperação sejam fortalecidos por idéias empreendedoras e construam pontes que interliguem os corações de boa vontade na busca de uma cidade melhor, de uma Terra dos Poetas desenvolvida na sua plenitude e que suas potencialidades tenham como base a nossa própria humanidade.

Eis uma pequena homenagem minha, como forma de agradecimento:

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

EDUCAÇÃO FISCAL IV

O EU E O NÓS:
ENTRE NARCISOS E EROS


COMUNICAÇÃO

Uma árvore só
(já a viste distante?)
tem a tristeza lamuriante
das coisas isoladas.
Unidas, tornam-se imensas,
de sombra mais densa
em mútua proteção.

As gotas sozinhas,
embora brilhantes,
não passam de pingos
que o vento desfaz.
Unidas são ondas,
subindo, caindo,
criando energia
na rebentação.

O homem sozinho
é no isolamento
fração, fragmento
de realização.

Therezinha Lucas Tusi


Como vivemos em sociedade e o homem é por natureza um ser social, o “EU” só conseguirá realizar grandes proezas dentro do “NÓS”. O que quero expressar é bem a mensagem que a querida amiga poetiza, quis comunicar com sua obra. Reforçar a união, a participação coletiva, a responsabilidade social, a cooperação, fraternidade e a ética planetária.

Dentro dessa visão, a minha atuação no Programa de Educação Fiscal, ganha significado, na medida que, há uma interação com os demais. Ou seja, como coloquei no primeiro fórum, se eu guardar só para mim as informações que recebi realizando esse curso, não estarei auxiliando com a coletividade e possuindo uma postura egoísta, típica do Narciso, da mitologia grega. Mas se ao contrário, eu passar a comunicar e trocar experiências com os meus pares, estarei realizando um processo de construção de redes, com o objetivo que o Programa procura, ou seja, eu estarei “disseminando”. Assim como o Eros, distribuindo flechas de compreensão, respeito e amor para com os demais, pois, estarei oportunizando um crescimento coletivo (meu e dos a minha volta).

Bom, sou professor e tenho um compromisso social com todos os seres que passam por mim. Por essa razão, busco “Insignare”, na concepção latina do termo: marcar com um sinal, atuando na construção do significado do que fazemos. É nessa concepção que todos os conhecimentos gerados e experiências partilhadas na ótica da Educação Fiscal, passam a ser internalizados por mim, protegidos pelo sentimento de pertencimento. EU faço parte de um todo, de um contexto e EU tenho algo a contribuir para que NÓS possamos edificar alicerces revestidos na prática cidadã e que vislumbrem possibilidades de uma vida melhor, com a diminuição das desigualdades sociais e estratégias construtivas para o crescimento regional.

A atual Gestão Municipal de Santiago/RS – a Terra dos Poetas – na qual EU faço parte, está caminhando para um processo onde NÓS seremos atuantes de inúmeras mudanças de paradigmas. É claro que isso é uma caminhada que demanda tempo e paciência, mas já começamos a dar nossos primeiros passos, guiados pelos princípios do Programa Cidade Educadora, que busca uma melhor qualidade de vida para todos seus habitantes.

Coloco isso, pois NÓS temos como meta a Educação Fiscal atuando desde a Educação Formal (em todos os níveis de ensino, da pré escola ao ensino universitário), à Educação Não Formal (inundando as relações humanas, nos diferentes grupos de convivência) e chamando a responsabilidade social das Instituições e segmentos sociais para um trabalho cooperativo e participativo. Interligando as demais ações no que se referem à Educação Ambiental, Patrimonial, Empreendedora, Turística, para o Trânsito, e tantas outras, com a Educação Fiscal, passando a ter uma unidade na busca da formação da consciência cidadã.

Paulo Freire nos diz que: “É preciso plantar as sementes da Educação para colher os frutos da Cidadania.” Portanto é dessa forma que pretendo que minha reflexão torne-se dialética, mediante a interação com os demais, seja no departamento onde atuo, na extensão que a instituição pública possui, no convívio social e religioso que possuo. Pois dessa forma serei, efetivamente, um DISSEMINADOR.

Muito obrigado por esse momento, pelos conhecimentos e amigos que fiz nessa interação virtual, crítica e cidadã. Rodrigo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

EDUCAÇÃO FISCAL III

ENTRE O TRIBUTUM E A RESPONSABILIDADE SOCIAL







"As leis não bastam, os lírios não nascem das leis."

Carlos Drummond de Andrade




Gosto dessa frase que costumo usar como epígrafe, toda a vez que, me proponho o discutir alguma relação de atitudes cotidianas com algum preceito ou aspecto legal. Primeiro, porque penso que ela consegue tocar a essência humana e chamar para si a responsabilidade social de cada cidadão e cidadã e segundo, porque me faz refletir sobre a criação das leis, justamente para melhor ordenar o convívio entre os seres, e explicitar que somente estas de nada adiantam, se não houver uma mudança humana na forma de conviver.

No Curso de Disseminadores da Educação Fiscal, durante estudo do Módulo III "Função Social dos Tributos", além de conhecer um pouco da origem do Sistema Tributário no decorrer da história das civilizações e culturas, também, foi apresentada uma relação, bastante importante, que perpassa princípios de Igualdade e Justiça. Por isso é possível traçar um paralelo entre a realidade tributária brasileira e o princípio fundamental inserido no art. 3º, da Constituição Federal, que fala: "Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil - III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais" .

Assim, entende-se que a função social dos tributos está diretamente relacionada com o bom uso do Sistema Tributário, pelo Estado, para conseguir promover sua responsabilidade social e poder honrar com os preceitos legais, promovendo o bem comum e criando condições efetivas que potencializem todas as áreas do desenvolvimento humano.

Segundo o Ministério da Fazenda, a realidade do Sistema Tributário, em nosso país é muito complexa, principalmente porque existem muitos tributos que incidem sobre a mesma base, refletindo em uma sobrecarga para os cidadãos, que na grande maioria, desconhecem a dinâmica desse sistema.

Acredito que um ponto positivo para uma mudança paradigmática, está nesses cursos de formação, que através de informações importantes e de linguagem acessível, promovem a disseminação dessas estruturas em meio a sociedade. Outro fator que destaco de suma importância, diz respeito a competência dos municípios, como é o caso do meu - Santiago/RS - que adotou uma política de institucionalização do Programa de Educação Fiscal, unindo esforços entre as Secretarias Municipais de Educação e da Fazenda e expandindo para as demais, através a articulação entre os projetos e programas sociais, embasados nos princípios norteadores do Programa Internacional "Cidade Educadora".

Essas ações fazem por melhorar o diálogo entre Sociedade e Estado, mas não acredito que somente a falta de informação da população sobre o Sistema Tributário é capaz de responsabilizar-se pelas causas da iniqüidade fiscal em nosso país. É sabido que existem muitas outras causas, desde a corrupção, desvios de conduta, formas legais e ilegais de evitar o pagamento tributário, que para mim um exemplo expresso disso é a pirataria. Que além de gerar uma quebra na economia, também gera inúmeros efeitos sociais.

É muito importante que para o exercício pleno da cidadania, é indispensável a informação do funcionamento de todo arcabouço estrutural do Estado, para que haja uma participação ativa, através da vivência consciente da responsabilidade social de cada um, no auxílio ao combate das desigualdades e na construção de um futuro melhor para todos, imbuído da concepção de uma ética planetária.

Com isso, cresce cada vez mais, a importância dos Programas de Educação Fiscal, em meio as estruturas sociais. Sendo desenvolvidos com a proposta de transformar informações e dados em conhecimentos úteis e aplicáveis no dia a dia, nas tarefas cotidianas, internalizando-as nos seres e construindo uma rede de ações conscientes e cidadãs. Deve haver um processo educativo entre essas conexões, por exemplo: não basta apenas dizer que deve-se solicitar a nota, ou cupom fiscal, tem que se saber o que está envolto nessa ação, os benefícios gerados e que retornam à sociedade devem ser trazidos à tona, fazendo com que realmente aconteça uma Educação Fiscal viva, produtiva, humanizadora, ética e comprometida com o desenvolvimento social.

Assim, retorno à "Fábula do Leão e do Beija-Flor", onde o papel dos disseminadores deve ser visto como o do pequeno pássaro, a fim de conseguir sensibilizar e tocar os corações dos demais em prol da causa e fazendo valer a sua responsabilidade social com o exercício da cidadania.



"O problema atual dos direitos do homem não é mais justificá-los ou enunciá-los, mas protegê-los, buscar condições, os meios para realizá-los e, efetivamente, desfrutá-los. Trata-se, portanto, de passar à ação."

(ESAF, 2009, p.55)



Então, VAMOS NESSA!!!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

EDUCAÇÃO FISCAL II

Sobre o II Módulo do Curso de Disseminadores da Educação Fiscal:
Faça uma exposição a respeito do papel do Estado como instrumento de desenvolvimento econômico com inclusão social. Explique, com suas palavras, como deve ser feito o diálogo e a cooperação entre Estado e Sociedade para que possamos potencializar o enfrentamento e a superação desses problemas sociais.


ENTRE A SOCIEDADE E O ESTADO


(...) O poder corrompe... Para combater o mal, não bastam medidas punitivas. Além delas, há uma tarefa inadiável. O caminho fundamental é uma reforma estrutural, substituindo o poder unipessoal e centralizado do prefeito por um sistema descentralizado e participativo.

Descentralizar é colocar o governo mais perto do povo, tornando-o mais eficiente e democrático. A centralização multiplica a burocracia e facilita a corrupção. (...)

Acima de partidos e preferências pessoais, é importante que os vereadores de São Paulo e os múltiplos setores da sociedade se unam para discutir e aprovar um projeto final que assegure uma estrutura democrática, descentralizada e participativa à administração da cidade.



André Franco Montoro, in: "Propinópolis, ou descentralização?" Folha de São Paulo, 19/04/1999.



Inicio minhas reflexões, trazendo essa epígrafe, como forma de introduzir e ao mesmo tempo sintetizar algumas colocações em relação ao diálogo entre Estado e Sociedade. Mas primeiro quero organizar minhas idéias sobre o Estado, que para mim, é a comunidade organizada politicamente, dentro de uma ocupação espacial (território definido) e normalmente dirigida por uma forma de governo, fazendo valer sua soberania em reconhecimento aos demais.

Pensando assim, posso concluir que a Sociedade é a construtora do Estado e este se fortalece através do arcabouço estrutural de normas, para manter uma relação harmônica entre os membros desta sociedade. Onde a participação política é uma necessidade da natureza humana, uma vez que, para todos nós, seres humanos, é indispensável a vida em sociedade e para que esta seja possível é que se torna necessária uma organização para uma ordem, onde as pessoas possam viver e conviver da melhor forma possível.

Assim, deveria haver uma consonância entre essas duas instituições na busca dessa tão almejada harmonia e na vivência real da cidadania. Porém, na realidade é bastante diferente, pois a Sociedade espera do Estado, através do seu "Dever de Fazer" que as coisas aconteçam, sendo que, na maioria das vezes ela se excluiu de tal responsabilidade. Que vai além de exigir e perpassa os planos de acompanhar, elaborar, fiscalizar, auxiliar, participar, avaliar e o principal de tudo internalizar como algo pertencente.

E por outra vez, o Estado, deixa a desejar no seu "Dever de Fazer" passando a bola para a Sociedade, em um jogo onde não há diálogos, sendo este, o fator determinante para marcar gols. Na questão proposta, penso que a chave está na palavra "diálogo"- (como deve ser feito o diálogo e a cooperação entre Estado e Sociedade), já que a partir dele passamos para a fase de trocas característica do processo cooperativo.

Percebo que o panorama está mudando e fico esperançoso. Verdade! Você pode até duvidar e tem todo o direito de fazê-lo. Mas quero expressar que esse diálogo vem sendo intensificado e muitas vezes até forçado. Vivemos em um momento em que setores sociais passaram a articular-se e comungarem de um processo de co-responsabilidade entre o Estado e seu sistema estrutural.

Vejo isso de forma positiva, pois quebraria lentamente as correntes assistencialistas nesta relação, o que faz com que se coloque em xeque o valor da responsabilidade social dos indivíduos, grupos e instituições. E isso não significa uma luta de forças ou quebra de braço entre ambas - Estado e Sociedade, mas sim o princípio da cooperação na busca desse enfrentamento e superação aos problemas sociais que se apresentam.

Por exemplo: não basta apenas que o Estado (em todos os seus níveis estruturais) consiga organizar e controlar tudo, se a Sociedade não puxar para si sua parcela de participação e responsabilidade. Estamos aprendendo isso a partir deste curso de Disseminadores de Educação Fiscal, quer melhor exemplo de diálogo, do que este?

Portanto a Sociedade deve aproveitar todos os momentos que são disponibilizados para essa troca, como também criar muitos outros. Isso fortalece o porquê da participação popular, das Conferências setoriais desenvolvidas nos níveis municipal, estadual e federal e a concepção da chamada Gestão Horizontal, que procura gerar vida aos processos, num caminho mútuo entre Sociedade e Estado sem a distorção do que é cidadania e sua prática, que vai além de direitos e deveres, mas sim de vivências cotidianas.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

EDUCAÇÃO FISCAL I

O Curso de Disseminadores da Educação Fiscal é muito interessante e faz com que a gente reflita sobre vários temas. No primeiro Módulo do Curso, solicita-se que:

Levando-se em conta a diferença entre informação e conhecimento, comente sobre a importância e os limites deste curso como contribuição para a ampliação da cidadania por intermédio dos meios eletrônicos de comunicação:


ENTRE A INFORMAÇÃO E O CONHECIMENTO 

Atualmente são constantes os discursos em torno da temática que confronta e ao mesmo tempo questiona o que é conhecimento e o que é informação. Sendo que esses debates, comuns no meio educacional, começam a ganhar cada vez mais espaços em outras áreas, perpassando a construção do ser e sua formação profissional em relação a realidade e o contexto social que se apresenta a contemporaneidade.

Não há como negar que realmente estamos numa era de grande, constante e mutável gama de conhecimentos e informações. Porém devemos ter clareza da diferença existente entre esses dois termos, a amplitude de cada um e sua utilidade no nosso cotidiano.

Podemos dizer que com o avanço científico-tecnológico, ocasionado pelo conhecimento e sua aplicação prática, estamos em meio uma torrencial chuva de informações, as quais muitas vezes, não conseguimos processar e avaliar como deveríamos.

A História humana nos mostra que o conhecimento sempre esteve restrito a um pequeno grupo, como forma de manter diversos "status", uma vez que, as informações geradas e difundidas serviam para a manutenção dessa estrutura. Pois possuir certas informações ocasionaria a construção ou a revelação de certos conhecimentos, habilidades e competências que transformariam o estado de ser e estar das coisas e sujeitos em relação a sua visão de mundo, propiciando assim mudanças de paradigmas.

Muitos estudiosos colocam o surgimento da internet e sua difusão como a grande explosão de informações, muitas ocasionadas pelas novas descobertas no campo científico, que vinham a transformar  e alterar muitos dos conhecimentos instituídos e acumulados historicamente pela humanidade, como nos fala Peter Berger (1967, p.22) "o mundo começa a tremer no mesmo instante em que a conversação que o sustenta começa a vacilar". Mas isso não significa que o conhecimento tornou-se massificado, ele cresceu, transformou-se e revelou-se o quanto importante é para o desenvolvimento das sociedades, sendo ainda visto e/ou utilizado como forma de dominação.

A grande "sacada" da vez, é conseguir transformar as informações em conhecimentos e essa é uma construção que depende muito da percepção dos sujeitos envolvidos nesse processo, lembrando que isso não se aplica apenas nos bancos escolares, mas sim em todas as etapas da vida humana e inerente a formação instrucional escolar. Por essa razão que hoje a educação é compreendida através da fragmentação entre: Educação Formal, Educação Não Formal e Educação Informal.

Um exemplo prático e cotidiano, que acredito que quem trabalha com processos educativos tem vivenciado, é o trabalho de pesquisa escolar e o contato dos alunos com esse mundo repleto de informações. O que fez com que se difundi-se o bordão: "O Google é meu Senhor é nada me faltará", ou, "Se não tem no Google não existe", como me ensinou a minha amiga Tainã, em meio uma conversa.  Isso demonstra a dinâmica das informações no mundo atual, mas transformá-las em conhecimentos é o grande desafio da educação, uma vez que, só de informações o sujeito não se sustenta, já que as exigências são muitas.

Tem um exemplo que sempre menciono e particularmente me emociona muito, essa experiência chama-se "Buracos nos Muros" e foi desenvolvida na Índia, sendo este um país de grandes contrates sociais. 

Uma grande empresa de comunicação resolveu colocar no lado de fora de seus muros, computadores ligados a internet. Certa hora alguém vai e abre os "buracos" destinando-os à precária população que inundada de curiosidade passa a manusear tal criação.

Destaco essa experiência pelo fato que uma parcela da população começou a ter contato com informações referentes a várias partes do mundo, como também, do seu próprio mundo, onde começavam a questionar se essas mesmas informações seriam verdadeiras ou não. Desse debate houve a construção de muitos conhecimentos, principalmente no que diz respeito a aquisição de uma segunda língua, o inglês, a compreensão geográfica e a diversidade cultural.

Isso reforça e demonstra o quanto significativo se torna a transformação de informações em conhecimentos úteis e aplicáveis para a vida. Assim, utilizando-se do recurso virtual, como acontece com algumas formações em Educação a Distância e a exemplo de nosso curso, passamos a receber as informações e através da mediação, graus de exigência e interação entre nós mesmos e as informações que nos são passadas, começamos a edificar nossos alicerces na construção dos conhecimentos. Que poderão ser úteis ou não, dependendo unicamente da intenção dos sujeitos construtores, pois se guardarem unicamente para si, ficarão informações, mas se socializarem com os demais configura-se verdadeiramente em conhecimento, por isso "disseminadores".

Bom, como já falei demais, quero deixar um pensamento do iluminado Dalai Lama, que diz: "Reparta seu conhecimento, é uma forma de alcançar a imortalidade."  
Referências:
 
BERGER, Peter. The sacred canopy. Garden City, Doubleday, 1967, p. 22. In: ALVES, Rubem. Conversas com quem gosta de ensinar. Campinas: Papirus, 2000, p. 74.
 
Conversa entre os amigos: Márcio Brasil e Tainã Steinmetz em Governador Virasoro - Argentina, em 30/10/2010. 

Vídeo "O Buraco no Muro" - disponível em:

 http://www.youtube.com/watch?v=Xx8vCy9eloE

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

sábado, 10 de julho de 2010

CAIO

"Levanta e segue em frente. Não por ser forte, e sim pelo contrário...Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência. E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda. Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo..."

Caio Fernando Abreu

sexta-feira, 9 de julho de 2010

CAIO

"A vida tem caminhos estranhos, tortuosos às vezes difíceis: um simples gesto involuntário pode desencadear todo um processo. Sim, existir é incompreensível e excitante."

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 29 de junho de 2010

A EDUCAÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA SOB OS OLHARES DE CLIO

“As leis não bastam, os lírios não nascem das leis.”
Carlos Drummond de Andrade


Desde a Grécia Antiga, quando emerge da mitologia, Clio a jovem “proclamadora” Musa da História tem a tarefa de registrar com seu estilete da escrita todas as ações e fazeres dos homens e mulheres. Percebo que ao longo de sua produção, essa Deusa, consegue fazer com que os seres humanos voltem-se para os seus feitos e possam questioná-los, revisitá-los e torná-los vivos novamente graças aos seus registros e a valiosa contribuição de sua mãe Mnemósine, a memória.

Pode-se até pensar que Clio não consiga ter o domínio de todas as produções humanas, mas quando menos se espera, surgem do baú dos esquecidos novas abordagens que acabam por revelar ações e vozes que pensavam-se estarem excluídas do seu olhar. É por essa razão que esse ofício foi destinado a uma Deusa, uma vez que, está nos mortais a formulação de questionamentos que os angustiam e que fazem com que Clio revele suas multifacetadas versões.

Meu propósito em invocar a Musa da História é para que através de sua contribuição eu possa estabelecer relações entre a Educação e a Legislação. Vindo, dessa forma, construir uma retrospectiva histórica da Educação nas Constituições Brasileiras.

Assim, Clio estabelece um contato com Themis (a Deusa da Justiça) e me faz compreender que um texto constitucional representa a institucionalização de um conjunto de normas básicas. Criando uma nova ordem ao Estado, que nada mais é que o povo politicamente organizado nas esferas tanto jurídica e política, como também, econômica, social e cultural.

Ao analisar os escritos dessa Musa, aprendo e constato que o Brasil já possuiu inúmeras constituições e várias emendas que fizeram com que se alterasse esta lei, considerada máxima do Estado. A primeira Constituição em 1824 nasceu dos anseios e reclamações da população, sendo conseqüência da Independência do Brasil em 1822.

Essa Constituição outorgada pelo imperador D. Pedro I, é considerada por muitos discípulos de Clio como inovadora para a época, pois abarcava muitos avanços se comparada com outras da Europa no mesmo período. A educação aparecia no texto legal preceituando que a instrução primária deveria ser gratuita, beneficiando a todos os cidadãos. Ela previa também a existência de colégios e universidades onde seriam ensinados elementos das letras, belas artes e ciências, ficando em vigor por 67 anos.

A que lhe segue é resultado da Proclamação da República em 1889, onde em 1891 entra em vigor sendo caracterizada como democrática e liberal, mas no campo educacional pouco foi alterado ou acrescentado da anterior. Ela vigorou por 43 anos e não avançou em relação aos direitos sociais.

Diante dos contextos que a tela elaborada por Clio nos apresenta durante a década de 30 é que surge a Constituição de 1934, considerada por muitos autores como a mais liberal de todos os textos legais. Ela trouxe consigo grandes avanços no campo educacional, incorporando as teorias discutidas por intelectuais e educadores da época.

É importante ressaltar que foi a primeira vez que apareceu em um texto constitucional a intenção e a preocupação de se fixar diretrizes para a educação. Com ela começou a conscientização da importância das Políticas Educacionais, bem como, conferiu caráter obrigatório ao ensino primário e à sua gratuidade. Criou-se o Conselho Estadual de Educação, que tinha as mesmas funções do Conselho Nacional de Educação, propôs-se a organização dos sistemas educacionais e a captação de recursos oriundos de impostos para o financiamento da educação.

Mas a História é moldada de construções e desconstruções e na maioria das vezes nos faz parecer que estamos retrocedendo em certos pontos. Essa idéia foi defendida por muitos com a promulgação da Constituição de 1937. Com as articulações de Vargas em seu “golpe de Estado”, esse novo texto traduziu o seu caráter ditatorial em muitos aspectos, como por exemplo o tratamento dado à educação puramente restrito. Ficava preservada a gratuidade do ensino primário, mas era necessário pagar-se uma taxa mensal por parte da população considerada com maiores condições, sendo que a mesma era destinada à caixa escolar. Esse texto também não contemplava o direito à obrigatoriedade do ensino para todos os cidadãos.

Influenciada pela onda pós segunda guerra mundial (1939-1945), a Constituição de 1946 inspirou-se nos princípios democráticos da anteriormente citada Constituição de 1934, vindo a garantir a liberdade de pensamento, direitos e garantias aos cidadãos. Outro grande passo foi a consagração do ensino primário obrigatório e gratuito, sem falar nas percentagens arrecadadas das receitas fiscais como nunca menos de 10% da União e nunca menos de 20% dos estados, municípios e Distrito Federal.

A Constituição de 1946 teve um elemento crucial que foi o retorno da União à legislação nas Diretrizes e Bases da Educação Nacional, fato este que vem consolidar a futura elaboração da LDBEN (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), onde foi aprovada em 1961 através da Lei nº 4.024/61.

É fato dentro da evolução histórica registrada por Clio, que cada governo ou ideologia político-partidária vai conduzir do seu modo as diretrizes que norteiam a vida da população, todos de acordo com os seus interesses para a legitimação de seu poder. O texto constitucional de 1967 foi promulgado em meio a protestos, tensões, desrespeito a direitos básicos e embates políticos, uma vez que nesse período, a tortura, a censura e a perseguição tornaram-se comuns e banais. Deixando esse período histórico marcado pelo autoritarismo na história brasileira.

Para a educação essa Constituição estendeu a obrigatoriedade do ensino primário dos 7 aos 14 anos de idade, deixando de fora os percentuais mínimos a serem investidos na educação. Foi dentro da áurea ditatorial que surgiu a Ementa Constitucional nº 1 (defendida por muitos estudiosos como sendo a sétima constituição brasileira), por ter alterado bastante o texto constitucional que se refere a educação. Foi uma época conturbada e bastante difícil para a maioria dos professores que eram vigiados, investigados e até torturados e mortos devido a forma ou idéia que demonstravam ao repassar os conteúdos, sendo que foi muito afetada a área das ciências humanas.

Com o processo de abertura e redemocratização nos anos 1980, a Constituição de 88, consagrou alguns direitos inalienáveis e registrou avanços legais para os brasileiros de um modo geral. Só que muito de seus princípios tiveram que ser regulamentados por leis posteriores, como é o caso da educação com a LDBEN – Lei Nº. 9394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional). Ficando expresso isso, no texto constitucional, em seu capítulo III, seção I, artigos 205 a 214.

Esta Carta Magna é considerada como a mais liberal e democrática que nosso País já possuiu, ao longo dos registros de Clio, trazendo muitos avanços em relação às anteriores. Ela expressa que a educação é um direito de todos e dever da família e do Estado, sendo prioritária a seguridade para crianças e adolescentes, vindo a ser promovida e incentivada a colaboração da sociedade na busca do desenvolvimento pleno do cidadão.

No corpo de sua escrita, no que tange “Da Educação, da Cultura e do Desporto”, preceitua a garantia do Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito. Como também, estende para aqueles que não tiveram acesso na idade própria esses mesmos preceitos, demonstrando um caráter mais inclusivo e fazendo-se contextualizar pela realidade social.

Um exemplo das muitas Emendas, que posteriormente auxiliaram na complementação da redação, destaco a Emenda Constitucional nº 53, de 2006. Onde cita a garantia da Educação Infantil, em creche e pré-escola, para crianças de até 5 anos de idade. Isso alavancou ainda mais a necessidade de se pensar na infância e a importância do cuidado com a formação da primeira etapa da educação básica. Essa Emenda cria o Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação) e também amplia a idade para o ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, que antes era de sete anos, passando a ser para seis anos de idade, bem como, a duração de oito para nove anos de estudo no Ensino Fundamental.

São inúmeras as possibilidades de exploração que essa Constituição nos traz, como também, todas as complementações que foram sendo feitas com o passar da existência de Clio. O interessante é não pensarmos a Educação desassociada deste contexto histórico de lutas, avanços e retrocessos.

Pois o hoje pauta-se no ontem, na experiência, na transformação, ou na perpetuação deste e pensar os processos educativos é pensar em todo o arcabouço político que o sustenta, analisando-o a luz das Teorias da Educação em relação com os elementos tricotados por Clio, nessa nossa grande colcha de retalhos multifacetados.

Referências Consultadas:

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1988.

DIDIO, Renato Alberto Teodoro. Contribuição à sistematização do direito educacional. São Paulo: Universitária, 1982.

LIBÂNEO, José Carlos. Educação escolar: políticas, estrutura e organização. São Paulo: Cortez, 2005.

MOTTA, Elias de Oliveira. Direito educacional e educação no século XXI: incluindo comentários à nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e Legislação Conexa e Complementar. Brasília: UNESCO, 1997.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A MÁGICA VIAGEM DO PROCESSO AVALIATIVO

Em nossa vida realizamos inúmeras viagens, onde conhecemos lugares, pessoas e coisas diferentes. Também realizamos viagens sem precisar nos deslocar, como quando lemos um bom livro, navegamos na internet, assistimos a um filme, sonhamos, ou planejamos futuras ações.

Hoje pretendemos realizar uma viagem com você. É, com você mesmo! Você que é educador, aluno, ou talvez, simplesmente seja um defensor dos processos de melhoria da nossa educação e que fomente esse debate, assim como quem coloca lenha em uma fogueira.

Antes de embarcar, gostaríamos que você despertasse a Deusa Mnemósine que há dentro de você, relembrando sua própria vivência escolar. Deixe aflorar a primeira coisa que vem a sua mente, quando falamos de escola e processo de ensino e aprendizagem.

Para alguns, talvez se fortaleça a imagem de uma professora ou professor que marcou sua vida, tanto de maneira positiva, como negativa. Outros se lembrarão de atividades realizadas, de provas, trabalhos, colegas e amigos. Enfim, cada um tem sua própria historicidade e o que propomos é justamente usá-la para enriquecer ainda mais a nossa mágica viagem que se inicia.

Estamos em uma Estação a espera do embarque, onde ao mesmo tempo é ponto de chegada e de partida. Essa Estação é a do Início do Ano Letivo, onde viajaremos por longos e desafiadores percursos, muitas vezes fazendo algumas paradas obrigatórias e revisitando alguns pontos.

Em meio a ansiedade, pessoas diferentes e busca por coisas novas, eis que ouvimos o apito do trem. Sua locomotiva radiante parece que saiu de uma das muitas histórias da literatura, com sua fumaça perfumada e com a capacidade de estimular o saber. Pena que, nem para todos, essa visão seja tão motivadora e bela.

Com bonitas e trabalhadas letras douradas está gravado na cabine da locomotiva: Processo Avaliativo. Esse é o nome dela, que conduz uma imensidão de vagões, cada um com suas especificidades, indo desde vagões de conhecimentos, habilidades, informações, valores de vida, bagagens de vivências... Não teríamos como mencionar todos aqui!

Há uma pessoa que acompanha esse trem, é o Ferroviário de Manutenção, ou seja, um mecânico que vai cuidando das conexões entre os vagões, a quantidade de carga em cada um deles e mantendo que a engrenagem do sistema funcione corretamente. Essa pessoa em outros espaços e contextos também é conhecida como professor.

Mas o engraçado é que não é ele que vai comandando a locomotiva. Como já mencionamos, ele vem dando suporte e orientação. A locomotiva vem vazia, que estranho! Na verdade, há alguém na Estação esperando para comandá-la e essa pessoa é o Ferroviário Condutor, popularmente conhecido como Maquinista e no contexto educacional em questão, trata-se do aluno.

Bom, agora estamos com tudo preparado para darmos a partida. É hora de começar a conhecer toda a amplitude que o termo avaliação possui. Devemos lembrar que avaliar é um procedimento didático que acompanha os processos de ensino e aprendizagem, ele não é rápido e estanque, ele estende-se por um longo caminho tendo em vista múltiplos fatores de apoio. Sendo reflexos não somente de instrumentos avaliativos (provas, testes e trabalhos), ou registros de avaliação (boletins, pareceres, notas), mas também abarcando para si, valores morais, visões de mundo e diversas concepções, como as de ser humano, sociedade e da própria educação (HOFFMANN, 2005, p.13).

Muita coisa vai sendo transformada, compartilhada e aglutinada no percurso dessa jornada, a qual pode-se dizer que é uma ação em três distintos tempos. É característica de todo processo avaliativo observar, analisar, compreender as estratégicas de aprendizagem e tomar decisões que auxiliem no bom andamento da viagem. Segundo HOFFMANN (2005, p. 17), “avaliar é agir com base na compreensão do outro, para se entender que ela nutre de forma vigorosa todo o trabalho educativo.” A autora ainda coloca que sem uma reflexão crítica e séria sobre a prática, tendo consciência da importância da ética para o processo, acabamos nos perdendo do caminho. Pegamos desvios que atrapalham e atrasam a viagem, isso faz com falte combustível e aumente os trilhos para o alcance dos objetivos.

Portanto, temos que ter noção da necessidade de respeitar e compreender cada tempo desse passeio. Começamos com a admiração, com o tempo de admirar-se com tudo o que esse maquinista consegue nos surpreender e encantar, no conduzir desse trem. Depois passamos para o tempo de reflexão sobre todas as possibilidades e maneiras que se procede a nossa viagem, descrevendo as etapas percorridas e todas as paradas realizadas. E por último o tempo da reconstrução das práticas avaliativas, vindo emergir a necessidade do porquê avaliar. Sendo importantíssimo o preparo e a qualificação profissional por parte dos ferroviários de manutenção, ou seja, os professores, nesse tempo, precisam ter clareza e conhecimento sobre pressupostos teóricos acerca da avaliação em confronto com a sua aplicabilidade na prática, em relação aos diferentes contextos sociais.

Assim, nossa viagem vai chegando ao fim, passando por desafios alcançáveis, gradativos e que exigem, cada vez mais, a construção de habilidades e competências frente o conhecimento, tanto por parte dos alunos, como dos professores também. Chegamos na Estação do Fim do Ano Letivo, com a esperança que esse passeio tenha sido prazeroso, significativo e realmente construtivo no que tange as propostas de um processo avaliativo consciente, ético e comprometido com a construção cidadã para uma educação melhor, uma vida melhor, um mundo melhor!

REFERÊNCIAS:

HOFFMANN, Jussara. O Jogo do Contrário em Avaliação. Porto Alegre: Mediação, 2005.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

NIKOLAI E OS QUESTIONAMENTOS À GESTÃO DA EDUCAÇÃO

Rodrigo Neres de Morais


“Querer saber - o que parece tão difícil - se não é errado, entre tantos seres vivos que praticam a violência, ser o único ou um dos poucos não violentos, não é diferente de querer saber se seria possível ser sóbrio entre tantos embriagados, e se não seria melhor que todos começassem logo a beber.”
(Leon Tolstoi)


Olá! Prazer, meu nome é Nikolai. Sou um menino muito curioso, gosto de questionar, para tentar entender um pouquinho mais as coisas que as vezes me parecem embasadas. Talvez pelo próprio vapor da dúvida, assim como o espelho do banheiro após um bom banho quente.

Na minha vida não almejo muita coisa, tenho um simples desejo, que é constante e latente em meu coração: quero ser uma boa pessoa. Mesmo, nem sempre, sabendo a melhor maneira de fazer isso.

Para traçar um caminho a seguir, rumo ao encontro de minha felicidade, conquistando meus objetivos é que, depois de muito pensar, planejei três perguntas com o intuito de que as suas respostas me auxiliassem nessa tarefa. Já questionei muita gente e muitas coisas também. Comecei com os meus amigos mais próximos e fui estendendo para outras pessoas, suas maneiras de pensar e agir, ideologias, instituições, fatos sócio-históricos, normas e conveniências. Como pode perceber, incomodei e mexi com as estruturas de muitos seres.

Recentemente meu olhar recaiu sobre algo que vem ganhando evidência na literatura educacional e que segundo a escritora Heloísa Lück (2006, p.33), foi a partir da década de 1990 que esse tema se intensificou e “vem-se constituindo em um conceito comum no discurso de orientação das ações de sistemas de ensino e de escolas.” Você tem idéia do que seja? Se prestou atenção ao título, com certeza já matou a charada.

Primeiro, com base em meus estudos e da ajuda especializada de amigos como MORIN, KUHN, e a já citada LÜCK , entendi que o conceito de Gestão busca um novo entendimento que extrapola a simples noção de ordenamento de uma instituição, fazendo com que haja conexões entre as partes e setores que formam o todo, sendo as mesmas vistas e entendidas como importantes para o sucesso dos processos.

Descobri que durante um bom tempo esse ordenamento estava relacionado à Teoria da Administração e que esta buscava a excelência da produção e serviços prestados. Com as mudanças provocadas pela Musa Clio e procurando levar-se em conta questões relacionadas a ordem sócio-cultural, o termo Gestão, voltado a educação, foi obrigado a sofrer algumas mudanças conceituais. Lembrando que agora “a concepção de gestão supera a de administração e não a substitui” (LÜCK, 2006, p.39), pois o que é levado em conta são justamente, as limitações que o termo no viés administrativo possui e para que se tenha uma construção de gestão educacional, faz-se necessário superar tais barreiras.

Certo! Penso que estou progredindo no entendimento de uma nova Gestão que abarque para si todas as necessidades que o pensar educativo tem. Por que pensar na dinâmica do sistema de ensino como um organismo vivo, visto de forma holística (como um todo), levando em consideração as especificidades de cada realidade social, caminhando junto à legislação, diretrizes e políticas públicas educacionais e buscando vivenciar, tornando reais os princípios de cidadania, autonomia, cooperação e participação democrática, é conhecer as raízes da Gestão da Educação.

Sendo que é a partir dessa concepção educativa que eu lancei meus questionamentos à Gestão. Lembra que possuo três perguntas? Agora revelarei para você a primeira delas: Qual é o melhor momento para fazer as coisas? Procure responder. Primeiro leve em consideração sua própria vida e depois tente transferir seu pensamento para o nosso objeto de estudo em questão.

Nesse momento contarei com a ajuda de três distintos Gestores que me ajudarão a encontrar as respostas que necessito. O primeiro é o Gestor Ícaro, que ao ser questionado respondeu: - É preciso planejar com antecedência, para saber o melhor momento de fazer as coisas. O segundo é o Gestor Baco e para ele: - Só saberemos quando fazer as coisas se observarmos e prestarmos muita atenção ao nosso redor. Já o terceiro, o Gestor Ares colocou que: - Não podemos prestar atenção em tudo sozinhos. Precisamos de companheiros para nos ajudar a resolver quando fazer as coisas.

As respostas para a primeira pergunta ainda não me foram satisfatórias, parece eu está faltando algo, mas não sei o que. Vamos então para a segunda pergunta: Quem é mais importante? Pense um pouco, quem sabe você consegue me ajudar.

Para o Gestor Ícaro é mais importante quem sabe voar, quem está mais próximo do céu, nas alturas. Quem sabe curar os doentes foi a resposta do Gestor Baco e para o Gestor Ares é mais importante quem faz as leis. Pelo o que pude entender seriam mais importantes: primeiro as pessoas que estivessem em altos cargos, depois os médicos ou os com a capacidade de pacificar conflitos e depois quem elabora as leis? Ai ai... Não estou conseguindo chegar a uma conclusão.

Tá! Qual é a coisa certa a ser feita? Essa é a minha terceira e última pergunta e garanto que você já tem uma resposta, vamos diga! Para o Gestor Ícaro é voar, para o Gestor Baco é divertir-se o tempo todo e o Gestor Ares defende a idéia, que é brigar. E Você concorda com algum? Discorda? Porquê? Me ajude, por favor! Estou perdido.

Eureca! Vou pedir ajuda a um quarto gestor e até já sei quem. A escola Colméia tem chamado muita atenção pelo seu modelo de gestão, é lá que vou encontrar minhas respostas.

- Olá Gestora Sofia! Vim pedir sua ajuda, tenho três perguntas e gostaria que ambas fossem respondidas a luz do entendimento do que é Gestão Educacional e... O que a senhora está fazendo?

- Estou ajudando na decoração da escola para a Copa.

- Posso lhe ajudar? Eu consigo alcançar os suportes para prender as bandeirinhas.

- Claro que pode!

- Puxa! Como ficou bonita a sua escola.

- É, a nossa escola, ficou mesmo muito bonita graças ao trabalho de nossos alunos, professores, funcionários e colaboradores, assim como você.

- Que legal! Mas... O que está acontecendo naquela sala?

- Há, estamos realizando mais uma etapa do nosso projeto de Educação Fiscal.

- Sério! A senhora sabe que eu realizei um trabalho uma vez, sobre toda a história do nosso sistema monetário. Aprendi muito.

- Não quer apresentá-lo para nós?

- Apresentar? Eu? Acho que não. Foi só um trabalho de escola e apresentei uma única vez para a minha turma e nunca mais.

- Então, quem sabe, conte-nos a sua experiência. Como foi realizar esse tipo de trabalho. Venha! Vou lhe apresentar ao grupo.

- O sinal tocou e eu nem percebi que o tempo passou. Muito obrigado Gestora Sofia eu nem imaginava que poderia ser útil para um trabalho como esse. Me envolvi tanto que até esqueci...

- Esqueceu do quê?

- De lhe cobrar as respostas para as minhas três perguntas.

- Ora, creio que você já encontrou a resposta para elas.

- Como assim?

- Vou explicar: Quando você chegou, percebeu que eu estava com dificuldade e me ajudou. Se não tivesse feito isso, não teria conhecido alguns dos projetos que realizamos aqui na escola. Então o melhor momento foi aquele que você me ajudou. Naquele momento a pessoa mais importante fui eu, e a coisa mais certa foi me ajudar. Depois quando você participou do projeto de Educação Fiscal, o momento mais importante foi quando relatou suas experiências. Quem era mais importante era os alunos e professores que lhe ouviram. E a coisa mais certa a fazer foi ajudá-los com a sua participação.

- Lembre-se de que há um só momento mais importante, e esse momento é agora. Quem é mais importante é quem está com você, indistintamente. E a coisa certa a ser feita é procurar melhorar a realidade de quem está com você, mesmo com pequenas ações, como começando preocupar-se em questionar o que é Gestão e a sua aplicabilidade, funcionalidade e entendimento na educação, como você fez.

- Nossa! Gestora Sofia, eu não tinha me dado conta disso. Pois, a lógica da gestão é procurar horizontalizar as relações, seguindo princípios democráticos com o reconhecimento da importância que a participação consciente de todos os integrantes da comunidade escolar tem para o processo de melhoria da Educação, e este visto como um todo. Unindo-se a outras idéias, como nos fala LÜCK (2006, p.49), “idéias globalizantes e dinâmicas em educação, como, por exemplo, o destaque à sua dimensão política e social, ação para transformação, práxis, cidadania, autonomia, pedagogia interdisciplinar, avaliação qualitativa, organização do ensino ...”

Pelo jeito, hoje, acabei aprendendo mais um pouquinho sobre a Gestão da Educação e acredito que isso foi possível, devido o que propõem KOSIK (1976, p.18), “o homem, para conhecer as coisas em si, deve primeiro transformá-las em coisas para si”. E por hoje é só. Até a próxima, tchau!

REFERÊNCIAS

LÜCK, Heloísa. Gestão Educacional: uma questão paradigmática. Petrópolis: Vozes, 2006.

MUTH, Jon J. As Três Perguntas: baseado numa história de Leon Tolstoi. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

domingo, 6 de junho de 2010

QUAL A IMPORTÂNCIA DE LER? (Programa Palavras e Ondas – Central FM)

Se eu conseguisse, como vocês, eruditos,
me apaixonar por uma ciência! Mas eu
desisto! Não me resta nada mais do que
viver com todas as ciências uma vida de
borboleta... Bouterwek, carta a Pfaff.



Cores, desenhos, letras... Letras, letras e letras. Mais alguns números que parecem letras, ou são os letras que se parecem com os números. Puxa! Quanta confusão! Como será que é ler?

Bem eu leio, e leio muito, ta! Todas as revistinhas em quadrinhos e livrinhos que tenho contato. Sei todas as histórias de cor.

Primeiro pedia que contassem para mim, depois, quando terminava a paciência de meus contadores, pegava os livros, olhava suas figuras e seguia (re)contando-as só para mim e minha legião de amigos inseparáveis e invisíveis. Não suportava quando os meus contadores mudavam o enredo das histórias, pulavam partes importantes, assassinavam personagens, só para se livrarem logo desse ofício.

Olhando as ilustrações conseguia imaginar e criar várias aventuras e inúmeras possibilidades de construção de enredos. Você NÃO sabe ler, só fica folheando com os livros. Pare de fazer de conta que está lendo! Não é nada disso que está escrito...

Por essas e outras que eu anseio em desvendar o incrível mundo das letras. Poder ler o que eu quiser, construir minhas próprias histórias, para poder viajar por mundos de fantasia, participar de aventuras, descobrir meus próprios super-poderes e conviver com personagem que vão além de meros amigos imaginários.

Hoje é um dia alegria, vou para a Escola!!! A Tia Chica é minha professora. Sempre aprendemos uma letrinha de maneira bem legal, aos poucos juntando-as surgem as sílabas e com a união destas, eis que formam-se as palavras. Os livros são cheios de palavras, pois são elas que nos contam as histórias, assim como os desenhos.
Toda a semana vamos à Biblioteca da Escola e escolhemos um livro para ler. São tantos. Queria pegar esse e mais aquele que tem o leão na capa e o outro sobre o Trem...

Levamos o livro para casa, com a promessa de cuidar bem dele durante o final de semana e quando chega a segunda, acontecia o famoso sorteio para ver qual colega contaria a história de seu livro. É muito legal!

Depois de um tempo, já na 4ª série, a Profe Gica nos provoca muito. São encenações de clássicos (o meu era a festa no céu), construção de histórias e livretos, que depois encenávamos também. Jamais esqueci o Espantalho Diferente (Eu), que a Rosse escreveu. A Nathi também lembra, pois até hoje damos gostosas gargalhadas nos nossos momentos de saudosismo.

Mas a atividade mais legal, para mim, foi o que a Profe Gica fez como o Livro “O Menino de Asas”, da Coleção Vaga-Lume. Cada dia ela lia um pedaçinho do livro, era muita ansiedade para saber o final. Só que ela não contou de imediato o desfecho para nós. Fez com que escrevêssemos um e só depois contou o final verdadeiro.

Aprendi o quanto é importante a leitura e comecei a tomar gosto por ela. Detesto escrever. Tenho preguiça. Sempre foi um sacrifício para eu ter um caderno em dia. Só tive um, o da Zair – Gestão e Planejamento da Educação, no Curso Normal, logo após o termino do Ensino Médio.

Sempre fui mais de falar, criar ou fazer algo bem diferente, assim bem visual, mas nunca abandonei a leitura, leio de tudo: sempre leio os rótulos dos xampus e alimentos, bulas de medicamentos, jornais e revistas (mesmo velhos), textos da internet, revistas dos x-men, livros sem preconceito.

Ultimamente, devido a cientificidade da academia, tenho lido bastante sobre inúmeros temas, sempre procurando interligá-los, seja sobre Teorias da História, Correntes Filosóficas, Educação Patrimonial, Gestão e Teorias da Educação e por aí vai. Mas ao mesmo tempo leio alguns dos Clássicos da Literatura Brasileira, pois os uso como recurso didático em minhas aulas de História, leio os livros mais vendidos, ou os que aparecem na lista da Veja. Por que não? Leio muitas produções locais. É! Os escritos daqui da “Terra dos Poetas”. Leio os livros da Jane, da Meri, da Mada, da Biblioteca Pública, da ULBRA e a Andressa lê os meus. Compro, peço, presenteio, empresto, troco e até furto livros (mas só os da Jane).

Devemos sempre valorizar e incentivar a leitura, desde a Literatura Infantil nos Anos Iniciais até os pré requisitos para o vestibular, sempre lembrando e respeitando que há momentos certos para a leitura de cada obra. Pois, para mim, a importância de ler está na satisfação pessoal de cada leitor e não no impressionar os não leitores.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

AMIGOS DA BIBLIOTECA

O Projeto "Amigos da Biblioteca" está a todo vapor, disseminando a leitura, a produção e a valorização das mais diferentes formas de expressão artística. Vindo assim, a contribuir no fortalecimento da Identidade Cultural da nossa "Terra dos Poetas".

A Biblioteca Pública Municipal "Melvin Jones" está de portas abertas esperando sua visita, tanto para ser mais um de nossos amigos, como para participar de nossas atividades.

Lembre-se: "Um país de faz com homens e livros"
Monteiro Lobato


quarta-feira, 12 de maio de 2010

A GESTÃO DE GERAR VIDA

Na contemporaneidade estamos em um momento onde as Instituições Escolares estão sendo constantemente obrigadas a repensarem o seu papel frente a conjuntura do mundo atual. Por essa razão que a escola tem figurado o papel principal em muitas produções na literatura científica, não apenas pelo fato de ser um ambiente de extrema importância sócio-cultural, mas pela busca de uma melhoria significativa nos sistemas educativos.

E, é nessa busca pela transformação humana que a escola deve valorizar e refletir sobre a sua organização e gestão como alicerce básico para se alcançar as metas tão almejadas.

Cabe mencionar que se observada numa perspectiva sociocrítica, a escola passa a ser “vista como um espaço educativo, uma comunidade de aprendizagem construída pelos seus componentes” (p. 30). Sendo um espaço de descentralização do ensino e reflexão sobre o papel social de cada membro da comunidade que a constitui. Assim a gestão da escola passa a ser encarada com dimensões que extrapolam os aspectos administrativo e burocrático, uma vez que, ela passa a ser entendida como verdadeiras práticas educativas e que englobam dentro de seu processo modos de agir e pensar, valores e atitudes que acarretam profundas influências na aprendizagem afetando não só alunos, mas principalmente os seus professores.

Essa gestão vista de forma horizontal é capaz de ampliar a participação de vários atores e atrizes educativos que na maioria das vezes não aparecem como produtores de um trabalho integrada à melhoria da educação. Deve-se lembrar que “todas as pessoas que trabalham na escola participam de tarefas educativas, embora de forma não igual” (p. 31).

Os professores não devem estar relacionados a escola somente em dar aulas e vencerem os conteúdos programáticos da melhor forma possível. Eles estão inseridos na organização e devem participar da gestão da escola. Cada um com as suas especificidades de suas áreas tem muito a contribuir e a aglutinar conhecimentos e experiências no encontro de melhores caminhos a se seguir.

E isso se dá desde “tomar decisões coletivamente, formular o projeto pedagógico, dividir com os colegas as preocupações (...) ou assumir coletivamente a responsabilidade pela escola” (p. 34). Compartilhar é uma palavra fundamental para o crescimento profissional em qualquer área, mas principalmente na educação, pois faz com que se reflita sobre a identidade de um grupo social e juntamente, sobre a importância que o mesmo tem para a sociedade atualmente.

Por isso que o professor deve ir além do que simplesmente ‘dar sua aula’, ele tem que conhecer as condições sociais, organizacionais, pedagógicas e administrativas da instituição em que participa, para poder contribuir de forma positiva e coerente na gestão e na organização da escola. Já que ele é uma personagem que tem a função de “participar ativamente” e contribuir para as decisões nos diferentes aspectos que compõem a organização escolar (p. 36).

Estamos vivenciando profundas e rápidas mudanças sociais impulsionadas pelo avanço científico e pelo grande número de informações que nos são despejadas constantemente. Para se poder participar desse processo de gestão faz-se necessário que o professor esteja preparado para acompanhar esse ritmo, que chega a ser frenético, muitas vezes, pois “essas mudanças atingem o sistema educacional, exigindo-se dele a adequação aos interesses do mercado e investimentos na formação de profissionais mais preparados” (p. 47).

Isso faz com que se espere dos profissionais, cada vez mais, conhecimentos, preparo técnico e visão cultural. E esse é um ponto importantíssimo para o professor. Por que entra em cena a formação continuada, já que não aceita-se que alguém fique estanque com o conhecimento adquirido em momentos que não correspondem com a conjuntura do mundo atual.

A formação continuada deve ser vista como uma “função da organização escolar, envolvendo tanto o setor pedagógico como o técnico e administrativo” (p. 227). Ela vai além do que se entende, muitas vezes, como qualificação pedagógica, pois ela deve abranger as outras áreas da organização escolar e os demais profissionais.

Deve-se desmitificar a idéia que a formação continuada é simplesmente participar de palestras, cursos e seminários, como foi mencionado anteriormente, ela extrapola essa concepção. Uma vez que, além de conhecimentos deve-se pensar nos procedimentos técnicos e operacionais, como também, a valorização, exploração das diversas formas culturais e o respeito as diversidades.

A escola tem que prevê uma formação cultural e científica, possibilitando “o contato dos alunos com a cultura, aquela cultura promovida pela ciência, pela estética, pela ética” (p. 51). Mas para isso não só gestores, como os professores devem ter consciência da importância da interação cultural na aprendizagem. O diagnóstico da realidade está inserido em concepções culturais, como também econômicos e políticas.

Para essa mudança paradigmática, exige-se um profissional “capaz de exercer sua profissão em correspondência às novas realidades da sociedade, do conhecimento, do aluno, dos meios de comunicação e informação” (p. 81). Uma vez que, “a educação escolar tem a tarefa de promover a apropriação de saberes, procedimentos, atitudes e valores por parte dos alunos, pela ação mediadora dos professores e pela organização e gestão da escola” (p. 137).

Assim, concluí-se que uma gestão centrada em gerar, ‘dar a vida’ é um esforço conjunto de vários atores e atrizes educativos, que contribuem de várias e diferentes formas. Todas importantes e necessárias e que devem ser vistas como tais, para o bom andamento dos processos educacionais. O trabalho de todos é importante, mas faz-se necessário que se nomeie algumas responsabilidades que devem ser coerentes com as especialidades e aptidões de cada um. Pois “não é possível a escola atingir seus objetivos e sua proposta regular sem formas de organização e gestão”, como também, “a escola será tanto mais democrática quanto mais se empenhar na promoção da qualidade cognitiva e operativa da aprendizagem dos alunos” (p. 16).

Texto Base:

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: Teoria e Prática. Goiânia: Alternativa, 2004

terça-feira, 6 de abril de 2010

BEIJA-FLORES DA LEITURA

“Reparta o seu conhecimento. É uma forma de alcançar a imortalidade”
Dalai Lama


As fábulas sempre me cativaram. Atualmente tenho admirado o poder de intertextualidade que possuem e as inúmeras possibilidades de exploração didática, pois elas conseguem envolver as pessoas de todas as idades, por possuírem um caráter lúdico, repleto de fantasia, magia e conhecimento. Fazendo de sua narrativa um campo fértil para o trabalho de valores de vida, posturas e atitudes diante do contexto social que se apresenta.

Agora, não vejo apenas animais e plantas conversando, ou seres mágicos a nos rodear. Ao ler uma fábula, começo a ouvir a consciência humana, multifacetada em suas mazelas, ou até mesmo, a falta desta. Como é o caso da história, que há muito tempo venho explorando e que hoje uso como exemplo para fazer um chamamento à comunidade local:


Sob as sombras das imensas árvores, os animais da floresta conviviam em plena harmonia. Passavam os dias brincando, contando histórias e cuidando uns dos outros. Porém havia um animal que tinha uma grande responsabilidade, que era, justamente, a de cuidar e zelar pela segurança de todos os outros animais. Por essa razão ele recebeu o título de rei, Rei Leão.

Sempre muito atencioso, o Leão, nunca deixou que o título subisse a sua cabeça, afinal, ele era uma animal como todos os outros. Mas que, devido suas qualidades, foi destinado a prestar um serviço à coletividade e por essa razão, o desempenhava com muita seriedade e compromisso.

Uma vez, um ogro qualquer, colocou fogo na floresta. As chamas se alastravam com tamanha voracidade, fazendo com que o pânico tomasse conta da calma e harmoniosa floresta.

O Leão prontamente solicitou que todos os animais procurassem fugir e ficou cuidando para garantir que nenhum ficasse para trás. Foi necessário que alguns animais ajudassem os que não tinham habilidades necessárias para escapar do incêndio com tamanha rapidez, demonstrando assim o valor da solidariedade e amor ao próximo.
De repente o Leão franziu o testa. Algo o preocupava imensamente. Era um rápido risco azulado que ia e vinha, de lá para cá, sem parar. Ao investigar, o Leão, descobriu que se tratava de um pequeno Beija-flor, que buscava, no riacho da floresta, pequenas gotas de água em seu biquinho e jogava nas ardentes chamas.

_ Por que você está fazendo isso, se esse incêndio é muito grande para você? Perguntou o Leão.

_ Faço isso, porque essa é a minha parte. Não importa de você não vai fazer. Respondeu o pequeno pássaro.

Nesse instante, o Leão, começou a refletir, não só nas palavras, mas principalmente, nas ações do Beija-flor e viu que, se cada um dos animais fizesse a sua parte, por menor que possa parecer, conseguiriam vencer as chamas do terrível incêndio.

Assim, começou ele próprio a buscar água no riacho e jogar no fogo, servindo de chamamento aos outros animais, que abraçaram a causa e com a união de todos, fizeram frente ao mal que os ameaçava.

Em pouco tempo não existia mais o incêndio.


Gosto de comparar o nosso trabalho em prol da Cultura como o do pequeno Beija-flor da fábula. Pois são pequenas ações, mas que precisam ser apoiadas e assumidas pela comunidade, através dos sentimentos de pertencimento e identificação pela causa.

Nesse mês de abril, a Biblioteca Pública Municipal “Melvin Jones”, iniciará o Projeto AMIGOS DA BIBLIOTECA, que busca parceiros voluntários para atividades de difusão cultural e fomento a leitura e a produção textual, atendendo os alunos da rede de ensino, desde a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio.

Será um trabalho para Beija-flores. Uma vez que, terá como objetivo, sensibilizar a comunidade para a importância da Literatura e da Arte, principalmente para a “Terra dos Poetas”, pois auxiliará, cada vez mais, no fortalecimento dessa Identidade Cultural.

É com orgulho e satisfação, que divulgamos a nossa primeira participante do referido Projeto, é a jovem Rebeca Sasso, que voluntariamente colabora com a Biblioteca Pública Municipal, realizando Hora do Conto para as crianças das Escolas Municipais de Educação Infantil que visitam o local.

Ela é mais um Beija-flor que se soma nessa grande batalha de distribuir gotas de fruição artística, irrigando campos férteis de imaginação e fantasia. Fazendo germinar sementes de produções artístico-culturais, florescendo em belas ramadas poéticas e gerando saborosos frutos para a comunidade de Santiago/RS.

Venha você também, ser um BEIJA-FLOR da LEITURA!!!

Entre em contato com Coordenadora Professora Madalena Scolare na Biblioteca Pública Municipal, (Rua Pinheiro Machado, 2291, 2º piso, centro, fone: 3251-1651), ou venha nos visitar, conhecer mais sobre o Projeto, como ajudar e também trocar experiências conosco.

NOSSAS FOTOS:


Rebeca nossa primeira colaboradora.


Hora do Conto: A Joaninha sem Pinta.


Alunos da EMEI Sol Criança.


Taíse: sempre pronta para ajudar e muito talentosa!


Eu e as crianças, em mais uma Hora do Conto.


Após a História: pintura de rostos - Até as professoras aderem!

terça-feira, 23 de março de 2010

BOA SORTE

É só isso
Não tem mais jeito
Acabou, boa sorte

Não tenho o que dizer
São só palavras
E o que eu sinto
Não mudará

Tudo o que quer me dar
É demais
É pesado
Não há paz

Tudo o que quer de mim
Irreais
Expectativas
Desleais

Mesmo se segure
Quero que se cure
Dessa pessoa
Que o aconselha

Há um desencontro
Veja por esse ponto
Há tantas pessoas especiais



... EIS ALGUMAS:

quinta-feira, 11 de março de 2010

O VALOR DAS COISAS SIMPLES: Projeto Baú do Tempo



"Tanta saudade preservada num velho baú de prata dentro de mim
Digo num baú de prata porque prata é a luz do luar"
(Gilberto Gil - Back in Bahia)



O presente projeto nasceu da iniciativa de um trabalho pedagógico centrado na construção do conhecimento através da ludicidade, explorando a história e o patrimônio municipal tendo como base a própria cultura material e para isso encontramos um parceiro perfeito: o museu.

O museu não é um “depósito de coisas velhas”, ele é um lugar de construção de conhecimentos e de identificação, tanto individual quanto coletiva. Mas para ele exercer esse papel deve apresentar certas características que aproximem a educação formal (a escola) da educação não formal (o museu, o arquivo, o patrimônio, etc.).

Essas características são as que ajudam a desmitificar a idéia de museu como algo chato, voltado somente para o passado, onde, na maioria das vezes, os visitantes não se sentem como parte integrante desse processo histórico, justamente por não haver uma identificação do sujeito com o local, com os objetos e com a própria história.

Assim o projeto “Baú do Tempo” procura reafirmar algumas dessas características de museu como espaço dinâmico, participativo, construtivo, investigativo, problemático e prazeroso. No momento em que a visitação ao museu não será mera passagem entre os objetos, mas sim uma problematização, contextualizando o visitante com a história de sua vida, de seu município, estado ou país. Ficando claro, que o visitante também faz parte do processo histórico e que possui a sua própria historicidade.

As atividades do museu fazem parte de um processo, o qual, muitos profissionais da área, chamam de processo museológico, que pode ser entendido pela investigação (pesquisa), preservação (coleta, documentação, conservação) e comunicação (exposição, ações educativas). Para quem os museus desenvolvem esse processo? Devemos pensar na sociedade como principal beneficiária, afinal, o museu é uma instituição a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, segundo o Conselho Internacional de Museus (ICOM) e o Departamento de Museus e Centros Culturais, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DEMU/ IPHAN).

O processo museológico tem como referência o patrimônio cultural. E através dele é possível que o indivíduo tenha maior interação com a realidade em que vive sendo capaz de interpretá-la, de entender sua historicidade, de perceber seu papel enquanto ator social. Democratizar o uso e acesso do patrimônio cultural é tarefa das instituições museológicas.

De acordo com o Professor Doutor Camilo Vasconcellos “devemos reconhecer que o museu pode converter-se em instrumento para fortalecer as identidades e a integração das comunidades e dos povos, promovendo a tolerância, o respeito mútuo e a aceitação da diversidade cultural”. Assim, é possível compreender que o museu tem uma função social e que profissionais de museu e outros profissionais que trabalham com o patrimônio cultural têm uma responsabilidade social.

Procuramos, com esse trabalho, dar ênfase num novo olhar para a história, através de novas abordagens, que no caso será o museu e seu acervo, o patrimônio municipal, o uso de imagens, do trabalho lúdico e de diferentes metodologias que auxiliam no processo de ensino e aprendizagem, centrado nos princípios e teorias da Nova História Cultural, a qual nos dá múltiplos questionamentos às mais diferentes fontes pois é ela que traz essa nova forma de tratar a cultura. Segundo Pesavento (2002 : 15) agora trata-se: Não mais como uma mera história do pensamento, onde estudava-se os grandes nomes de uma dada corrente ou escola. Mas, enxergar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo.

Se ao visitar um museu, um indivíduo tentar estabelecer relações entre o acervo e sua própria época, começará a perceber que muita coisa vai ganhar sentido. Afinal, o que se construiu ontem reflete no hoje. O ser humano necessita saber sua origem, o porquê das coisas.

Por isso desenvolvemos o projeto Baú do Tempo, onde uma das atividades realizadas é justamente o levar o museu até a escola, onde um baú itinerante com peças do acervo do Museu Municipal Pedro Palmeiro, fotos antigas e fotos atuais da cidade, os chamados “kits” vão para a escola, num trabalho inovador integrando os conteúdos de aprendizagem à educação patrimonial, a consciência histórica, a memória, o urbano, a investigação e análise de mentalidades de épocas diferentes confrontadas com a realidade do educando, criando assim a noção de “fazer história”.

Outra ação importante que o Projeto Baú do Tempo, passou a desenvolver a partir do ano de 2009, foi a oferta de pequenos Cursos de Formação Continuada, como no caso do Curso “O Papel da Sociedade em Relação ao Patrimônio”, com duração de 60 horas distribuídas de março a dezembro, em encontros nas sextas-feiras a noite. Esse curso contou principalmente com acadêmicos do Curso de Ciências Sociais, como também, dos Cursos de História e Pedagogia, visto como semeadores de uma prática educativa, a qual oportuniza, de maneira interdisciplinar, a Educação Patrimonial.

Sendo que, para este trabalho, é de extrema relevância a parceria com as escolas, pois é necessário que desde cedo o indivíduo internalize a importância do patrimônio na sua vida e crie o gosto pela visita a exposições culturais. Para que isso aconteça, é necessário que professores, coordenadores e diretores abracem a causa.

O museu (ensino não-formal) não pode substituir a escola (ensino formal). Cada um possui seu papel, que não deve ser ignorado. O que destacamos é a parceria entre as instituições, importante tanto para a preservação do patrimônio como para o aproveitamento do mesmo na vida dos alunos. Salientamos a importância do museu para o processo de ensino e aprendizagem, acreditando que o mesmo é um lugar vivo e dinâmico, onde a tradição pode ser conhecida, percebida, questionada e reinventada (SANTOS 1997).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HUNT, L. Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

MINISTÉRIO DA CULTURA/IPHAN. Política Nacional de Museus. Brasília, 2003.

PESAVENTO, Sandra J. História e história cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

POLÍTICA NACIONAL DE MUSEUS: Programa de Formação e Capacitação em Museologia – Eixo 3/ Ministério da Cultura do Brasil, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Departamento de Museus e Centros Culturais; organizado por Maria Célia Teixeira Moura Santos. Salvador: MINC/IPHAN/DEMU, 2005. (relatório 2003-2005).

SANTOS, Maria Célia T. Moura. Museu e Educação: conceitos e métodos, 2001.

VASCONCELLOS, Camilo de Mello. Museus, Turismo e Lazer: uma realidade possível. Disponível em: http://www.unisantos.br/pos/revistapatrimonio, acessado em 01/12/2007.

segunda-feira, 1 de março de 2010

SAPOS E ESCORPIÕES

A maior descoberta da minha geração é que qualquer ser humano pode mudar de vida, mudando de atitude.

(WILLIAN apud CARLSON, 1998, p.15)



A luz do sol refletia na água do caudaloso riacho que cortava em duas partes o belo e movimentado bosque.

Alguns animais achavam que havia animais com muita sorte, outros se achavam a si próprios sortudos e tantos outros nunca tinham parado para refletir sobre isso. Mas a sorte consistia em poder frequentar os dois lados do bosque separados pelas águas.

Para os pássaros isso era normal e não tinha relevância alguma, já para os gansos era motivo de tirar proveito, barganhar, enobrecer-se e até mesmo, de vez enquando, chantagear. Afinal, eles podiam transitar livremente entre os dois extremos, ora carregando uns, fazendo singelos favores e deixando no ar aquela tão conhecida expressão de “uma mão lava a outra”, ora arrastando outros, obrigando-lhes a se submeter a suas vontades e vaidades, amedrontando-os com ameaças provenientes de seus temidos poderes de alarde, o que é típico dos gansos. E as vezes, também, sempre tinham os que “por acidente” ingenuamente se afogavam por considerarem algum ganso como amigo.

Mas nem todos os gansos juntos conseguiam se igualar ao Escorpião em sua astúcia e ofício de espalhar o pânico ao ser avistado. Sempre só, porque fere a todos a sua volta. Amigos? Não os tem. Não saberia vivenciar o sublime sentimento de uma boa amizade. O que ele tem aos montes são companheiros de conveniência, que socialmente se mostram admiradores por medo, mas que no fundo o repudiam por ser ter destrutivo.

Num dia qualquer o Escorpião almejou aumentar seu território, conquistar novas e desavisadas vítimas e assim, pensava ele, eternizar-se pela fama tão ostentada. Decidiu que se atravessasse o riacho encontraria vários animais que não o conheciam e por isso seriam pressas fáceis. Sapateou de alegria e empolgação!

Mas como atravessar? Se todos são vítimas em potencial? Ora! Basta arranjar um tolo. Alguém que não consiga ver a maldade, mesmo que ela esteja com um outdoor luminoso se identificando. E é tão fácil enganar os outros, pensou o Escorpião.

Todo confiante em suas ações e posturas começou a percorrer a margem do riacho até encontrar a vítima certa. Quem seria ela? Qualquer um! Tanto faz, desde que ele consiga seu objetivo.

E quem diria que não foi necessário procurar muito, pois bem pertinho, ao sol, estava o Sapo. Que para ajudar tinha a fama de não fazer mal a ninguém, pelo contrário sempre auxiliava aos outros. Era o plano perfeito!

O Escorpião chegou de mansinho e todo educado começou a dialogar com o Sapo, perguntando coisas como do tipo: “Como está calor hoje? Será que vai chover? E como está esse nosso riacho?” O Sapo, que era bom e não bobo, logo desconfiou da súbita crise de delicadeza do Escorpião e perguntou-lhe o que realmente queria.

Preciso muito atravessar o riacho, contou-lhe o Escorpião. Não consigo ninguém para me ajudar. Esse mundo é muito injusto, tudo culpa desse sistema instalado historicamente em nosso bosque, que contamina as relações sociais ... etc, etc e tal.

Bom... Não posso te ajudar, falou, calmamente, o Sapo.

Como não! Que história é essa! E o discurso de miserabilidade que acabei de lhe professar? Bem vi que você não tinha intelecto suficiente para dialogar comigo. Respondeu o Escorpião indignado.

Não é por nada, Senhor Escorpião, é que conheço bem o Senhor e as coisas do que é capaz. Pode parecer meu amigo nesse momento, mas quando eu menos esperar vai me ferir, pois tenho na memória o que já fez com outros animais. Seu passado o condena, explicou o anfíbio se aproximando da água.
Rapidamente, grita o Escorpião: Por favor! Eu imploro, não se vá ainda. Preciso que ouça a minha defesa, eu tenho direito de me defender, me pronunciar e fazer algumas colocações. Tudo bem?

Sei que sou um dos animais mais vis e nocivos que existe, desse lado do bosque. Não é a toa que estou no grupo dos animais peçonhentos. Está em meu ser, não posso evitar. Mas posso tentar construir uma imagem nova sobre meu respeito. Se você me ajuda atravessar o riacho eu terei oportunidade de um recomeço, de uma vida nova. Já que do outro lado os animais não me conhecem e não sabem da minha história e de todas as coisas horríveis que eu fiz. Depende de você colaborar para que isso aconteça.

Ok! Se é isso o que quer. Vou levá-lo em minhas costas até o outro lado. Espero que cumpra suas promessas e lembre-se de que estou te ajudando e que não almejo teu mal. Na verdade nem faço parte de sua vida, nem temos relações e nunca fiz nada a você. Sempre mantemos distância um do outro, ponderou o Sapo, que na verdade pensava: por que ele faria mal a mim? Se não faço nada a ele? Não o ameaço e nem lhe causo incomodo algum?

Só que ao finalizar a travessia o Escorpião, prontamente, feriu o Sapo na altura de sua cabeça e rindo passou para o outro lado do bosque, ridicularizando-o: Só sendo muito otário mesmo! Eu sou um gênio! Não há ninguém que se compare a mim! A minha inteligência e astúcia são únicas!

Mesmo sofrendo com a gravidade do ferimento, o Sapo questionou: Por que você fez isso? O que você ganhou com o que fez? Pelo contrário só perdeu, pois se fosse confiável eu poderia te atravessar sempre e você desfrutaria de ambos os lados do bosque.

Aprenda uma coisa querido, ironizou o Escorpião. A moral da história é esta: Para uma criatura má prejudicar os outros, não necessita de razões ou pretextos. Ela simplesmente faz, porque gosta, não importa a quem.
E assim o Escorpião se tornou o rei do pedaço.





CALMA! Não terminou ainda, continuando: E assim o Escorpião se tornou o rei do pedaço, até descobrir que do outro lado do bosque existia uma legião de brancos pássaros, que velozmente desciam das alturas e que tinham como prato principal em seu cardápio, justamente ele.

Ah! e o Sapo? Não fiquem tristes, pois ele não morreu. Ficou mais forte, pois o veneno do Escorpião ficou alojado em sua cabeça e serve como arma, quando se sente ameaçado. As feridas fizeram com que ele mudasse de coloração e tivesse um apetite voraz por presunçosos e maléficos escorpiões, colaborando conosco para o controle dessas pragas.

Essa história foi elaborada com base na Fábula do Escorpião e do Sapo, contada pelo Seu Eri, que só podia ser mesmo do Amor Divino.

Lembre-se:

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.” (Saint-Exupéry, 1983, p.74)


Obras utilizadas:

CARLSON, R. Não faça tempestade em copo d’água... e tudo na vida são copos d’água... Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

SAINT-EXUPÉRY, Antonie de. O Pequeno Príncipe. Rio de Janeiro: Agir, 1983.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O TURISMO DE EVENTOS NA TERRA DOS POETAS

És tu Santiago, meu rincão agreste,
Bendito, pelo encanto destas tardes,
Pelas horas de sonho que me deste!

Tarde Campeira - Zeca Blau


O município de Santiago, RS, está em processo de afirmação de uma identidade cultural a partir da denominação de “Terra dos Poetas”, traz consigo um número expressivo de eventos artístico-culturais e de negócios, os quais podem ser explorados através do setor de Turismo, auxiliando no desenvolvimento local, na prestação de serviços, na geração de emprego, renda e na consolidação de suas produções e potencialidades. O que se pretende com o referido trabalho é justamente refletir sobre a possibilidade de se investir no Turismo aliado a propostas de desenvolvimento local e na solidificação de uma identidade cultural, que por sua vez é objeto turístico, merece e necessita ser trabalhada como tal.

Por mais que o Turismo seja hoje um fenômeno social novo, ele encontra-se em plena expansão com grande capacidade e diversidade de exploração e estudo. Faz-se necessário desmitificar a idéia de que a atividade turística deva pensar exclusivamente no retorno financeiro imediato, pois o Turismo foi, desde os jogos helenos na Idade de Ouro, e continua a ser na contemporaneidade, um grande instrumento de aproximação humana e fonte de cultura e interações sociais.

Cabe lembrar que os investimentos no setor do Turismo trazem retorno a longo prazo, na medida em que há a consciência coletiva em prol da melhoria da oferta turística, da necessidade de investimentos constantes, da qualificação e da diversificação dos serviços prestados e o principal de tudo, que a comunidade sinta-se responsável em auxiliar a atividade turística em sua localidade. Por exemplo, como vender a idéia de uma “Terra dos Poetas” se seus moradores não têm conhecimento da produção e dos produtores artísticos e o pior, que não sintam a importância de divulgá-los e muito menos de se orgulharem dessas produções. Então de nada adianta os investimentos para atrair visitantes se a comunidade local não está abraçada a causa e motivada a contribuir.

Mas assim como o Turismo, as mentalidades e as identidades são construídas ou alteradas em processos longos e não imediatos. Por isso é necessário se criar políticas públicas que vislumbrem a construção dessas bases, incentivando as ações em prol do fortalecimento do Turismo, da Educação Patrimonial e, sobretudo da valorização da História Local.

A história da humanidade nos relata que desde os primórdios o ser humano cultiva o espírito turístico, seja por curiosidade do desconhecido, necessidade de arriscar-se, de desbravar, de ampliar margens econômicas, ou até mesmo em questão de sobrevivência.

Os discursos em torno do Turismo são levantados em várias áreas do conhecimento como na Administração que procura gerir os processos de aplicabilidade econômica dos recursos oriundos das atividades turísticas, como também, criar mecanismos que dinamizem as ofertas e incentivem o empreendedorismo na área. Há a discussão no campo das Ciências Humanas, como é o caso da História que objetiva analisar a amplitude turística de uma localidade em relação a sua cultura, seja ela material ou imaterial, incentivando a Educação Patrimonial, a construção de identidades e o uso das mesmas como objeto turístico. Pois sabe-se, como coloca BENEVIDES (1996), que a manutenção da identidade cultural dos lugares, tendo na comunidade os atores do processo, favorece o estabelecimento de pequenas operações com baixos efeitos impactantes de investimentos.

Segundo DIAS (2003), grande parte dos municípios brasileiros possui atrativos que justificam a vocação para o Turismo, sendo defendido pelos economistas como uma atividade rentável e ressaltado por estudiosos como benéfico no que diz respeito à melhoria da infra-estrutura urbana e de acessos, geração de rendas, de impostos e de empregos, geração de divisas, reativação de certas atividades econômicas e enriquecimento cultural. Por essa razão que a maioria dos prefeitos desses municípios o inclui em seus planos de governo, como mola propulsora de desenvolvimento socioeconômico.

É realidade que o Turismo é o setor da economia que mais cresce na atualidade, já tendo alcançado o status de principal atividade econômica no mundo. Superando setores tradicionais como a indústria automobilística, a eletrônica e a petrolífera. Segundo dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, é uma atividade que tende a crescer 7,5% ao ano nos próximos 10 anos, movimenta cerca de US$ 3,4 trilhões (10,9% do PIB mundial) e emprega 204 milhões de pessoas (10% da força de trabalho global), além de possuir um número incalculável de atividades relacionadas.

Por essa razão o Turismo tem grande papel frente o desenvolvimento local, uma vez que tenham estratégias de exploração que priorizem esse objetivo de dinamizar a economia de uma localidade a partir de suas potencialidades. Procuro discutir nesse trabalho esse enfoque, voltado aos eventos realizados em Santiago, uma vez que, são poucos os atrativos turísticos naturais ficando evidenciado a sobreposição do Turismo de Eventos em relação às outras formas de exploração turística.

No calendário municipal, os santiaguenses contam com uma vasta agenda de shows, torneios, feiras e festivais, os quais devem ser trabalhados para atrair investimentos externos, ou seja, dinheiro dos turistas. Que ao visitarem a cidade para um Festival de Teatro, por exemplo o Santiago Encena, acabem consumindo nos estabelecimentos, mas também levando imagens agradáveis dos espaços da cidades, que servirá de estímulo para futuras visitas.

Para CAVACO (1996), o turismo ligado ao desenvolvimento local se assenta na revitalização e na diversificação da economia. Possui plena capacidade de fixar e atrair a população com êxito no sentido de assegurar melhores condições de vida. Apresenta, também, considerável sucesso na valorização da produção de produtos agrícolas, além de favorecer os planos de desenvolvimento do artesanato e outras atividades ligadas ao turismo e à cultura, a exemplo das feiras e festas tradicionais e populares.

Com isso DIAS (2003) nos diz que a importância do Turismo orientado pelos valores culturais se reflete pelo valor para o conhecimento de uma região, de uma época ou de um modo de viver, através do imaginário e do simbólico de uma comunidade, constituindo-se em Patrimônio e conforme PASSOS (2002) no redespertar dos valores culturais, valorizando as manifestações antropológicas, religiosas, artísticas, folclóricas, artesanais e históricas.

A partir dessas discussões, gostaria de tecer a idéia do uso da identidade cultural “Terra do Poetas”, alcunha esta criada pela Lei de Número 046/98 de autoria do vereador Nelson Peraça Abreu, como objeto turístico para o desenvolvimento local. Servindo como caminho para as explorações econômicas de eventos e tornando-se fonte de renda para vários segmentos da sociedade. É necessário se criar oportunidades para o desenvolvimento de novas metodologias de exploração desta identidade, que não fique apenas restrita a produções literárias. Mas que essas produções sejam fonte para uma gama de novos produtos a serem ofertados que acabam consolidando ainda mais Santiago com a “Terra dos Poetas” e divulgando-a além de suas fronteiras.

Minhas discussões não são findas, são apenas o princípio de inúmeros desafios, não apenas teóricos, como também práticos, cabendo não somente ao Poder Público pensá-las e aplicá-las, mas toda a comunidade deve se sentir parte integrante do processo de desenvolvimento. Pois a comunidade local tem oportunidades de envolvimento em todas as etapas do processo de exploração do turismo, sendo importantíssimo que ela seja parceira e acredite no potencial de sua cidade, seja esse natural, artístico ou histórico.

O Turismo, em sua expansão, é capaz de provocar alterações generalizadas no modo de como as pessoas vêem o mundo e com ele se relacionam. Assim, podemos concluir que o Turismo pode transformar-se em uma rica e significativa fonte de renda ao município, desde que invista em recursos, desde a divulgação, a promoção de eventos e melhorando a infra-estrutura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural. Campinas, 2000.

BENEVIDES, Irleno Porto. “Para uma agenda de discussão do turismo como fator de desenvolvimento local” In: RODRIGUES, Adyr Ballestrari, (Org.), Turismo e Desenvolvimento Local. São Paulo : HUCITEC, 1996, p. 23-41.

CAVACO, Carminda. Turismo Rural e desenvolvimento local. In: RODRIGUES, A. B. (Org.), Turismo e Geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. São Paulo: HUCITEC, 1996, p. 94-176.

DIAS, Reinaldo. Turismo sustentável e Meio Ambiente. São Paulo : Atlas, 2003.

PADILHA, Pedro Magalhães de. O Turismo. Rio de Janeiro : Bloch Editores, 1972.

PASSOS, Luciana Andrade dos. Paisagem Natural, Patrimônio Cultural e Turismo nos Cariris Paraibanos. Dissertação de pós-graduação. UFPB : João Pessoa, 2002.

PESSAVENTO, Sandra J. História e História Cultural. Belo Horizonte : Autentica, 2004.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

OS DIÁLOGOS ENTRE CLIO E CALÍOPE






Agora tu, Calíope, me ensina... Poderia ter dito Clio à musa sua irmã... Porque Calíope pode “ensinar” à Clio, e vice-versa, num tempo como o nosso, de confluente diálogo entre as diferentes disciplinas ou campos do saber.
Sandra Jatahy Pesavento



No tempo dos Deuses, na antiga Grécia, o Monte Parnaso era a morada das Musas, filhas de Zeus com Mnemósine, a Memória. Ao todo eram nove Deusas-irmãs que tinham o dom de dar existência para o que cantavam, sendo que, cada uma inspirava uma das artes.

O Mouséion era a casa onde Calíope, Clio, Erato, Euterpe, Melpômene, Polímnia, Tália, Terpsícore e Urânia dançavam e cantavam o passado, o presente e o futuro. Mas uma entre as nove vai se destacar.

Carregando o estilete da escrita e a trombeta da fama em mãos, Clio, a “proclamadora” musa da História, vem nos fazer crer que era uma filha muito querida, pelo fato de partilhar juntamente com sua mãe o passado e a mesma tarefa de fazer lembrar. Há quem pense até que Clio supera Mnemósine, sendo que fixava em narrativa, aquilo o que cantava, com o seu estilete e com a sua trombeta conferia notoriedade ao que celebrava (Pesavento 2005, p.7).

A mais velha das Musas era Calíope “a de bela voz”, que é a musa da epopéia, da poesia épica e da eloqüência. Com quem Clio tinha muita afinidade. E é explorando essa afinidade que podemos estabelecer conexões entre a História de Clio e a Literatura de Calíope.

Porém devemos ter clareza que elas não se confundem. Pois História e Literatura, segundo Pesavento (2006) correspondem a narrativas que explicam o real e que se renovam no tempo e no espaço, mas que possuem um traço de permanência ancestral: os homens, desde sempre, através da linguagem, expressaram o mundo do visto e do não visto, com diferentes formas: a oralidade, a escrita, a imagem e a música.

O que pretendo é justamente discutir o diálogo entre essas duas áreas do conhecimento que possuem características próprias. Porém, é necessário assumir uma postura que dilua as fronteiras, para poder ser feita uma aproximação entre as áreas de Clio e Calíope. Colocando em pauta relações de aproximação e distanciamento.

O real. É um fator que as aproxima. Porque tanto História como a Literatura são narrativas que tem como referência o real, podendo ele ser confirmado ou negado e até mesmo, sobre ele ser construída uma nova versão que pode ultrapassá-lo.

Cabe-nos lembrar que assim como as Musas participaram da construção do mundo, pois criavam aquilo que cantavam. História e Literatura são formas de “dizer” a realidade, na medida que partilham da recriação do real, através de um mundo construído de palavras e imagens (Pesavento, 2000).

Já para distanciar, Clio e Calíope, vem a noção de que a Literatura é o discurso sobre o que poderia ter acontecido, ficção e a História fica como a narrativa de fatos verídicos. Pesavento (2006) nos diz que discutindo esse diálogo é como percorrer pelas trilhas do imaginário e que os historiadores que hoje trabalham com ele discutem não só o uso da Literatura como fonte ao passado, como o próprio caráter da História como uma forma de literatura.

Ou seja, tomam o que não aconteceu para recuperar o acontecido e vêem a História como uma narrativa composta de ficção. Pesavento (2005 p. 112) coloca que:


Tais questões, abertas por vezes de forma iconoclasta, fora da História (caso de Roland Barthes) ou dentro dela (no exemplo de Hayden White), vieram encontrar uma abordagem epistemológica extremamente fina através da hermenêutica instaurada por Paul Ricoeur. A reação não se fez esperar por meio de historiadores como Roger Chartier, Krzysztof Pomian ou Philippe Boutry. Mesmo aceitando a ficção no terreno da História e a construção narrativa do passado como uma versão verossímil do acontecido, recusavam abolir as fronteiras entre História e Literatura.


O real, na relação com o historiador é diferente, como o método empregado também é. E mesmo fazendo estas aproximações e distanciamentos, Pesavento (2005, p.112) diz que ao colocar-se em diálogo com esses novos parceiros, o historiador, precisa se familiarizar com novas questões oriundas desses novos campos. Como as que colocam a História e a Literatura como leituras possíveis de uma recriação imaginária do real. (Leenhardt & Pesavento, 1998) o que aproximaria perigosamente o historiador do escritor de ficção.

Essa aproximação ou distanciamento, entre as duas áreas, é uma história que tem raízes nas idéias de Aristóteles. Pois esse filósofo em sua obra Poética estabelece uma antítese entre História e Literatura, vindo a criar vários obstáculos entre as duas, quase que intransponíveis (Mendonça, 1995).

Para Aristóteles, por tratar de verdades possíveis ou desejáveis, a poesia é mais filosofia, elevação e universalidade. E a História trataria de verdades acontecidas e particulares, sendo não universais.

O que pode ser interpretado segundo o pensamento do filósofo, é que esses dois campos do saber diferem na abordagem que dão aos acontecimentos ocorridos. Ficando mais evidente esse pensamento quando Aristóteles (In: Os Pensadores, 1973, p. 443-471) aborda que:


(...) não diferem o historiador e o poeta por escreverem verso e prosa (...), diferem, sim, em que diz um as coisas que sucederam, e outro as que poderiam suceder. Por isso a poesia é algo mais filosófico e mais sério do que a história, pois refere aquela principalmente o universal, e esta o particular. Por referir-se ao universal entendo eu atribuir a um individuo de determinada natureza pensamentos e ações que, por liame de necessidade e verossimilhança, convém a tal natureza; e ao universal, assim entendido, visa a poesia, ainda que dê nomes às suas personagens. Outra não é a finalidade da poesia, embora dê nomes particulares aos indivíduos; o particular é o que Alcibíades fez ou que lhe aconteceu.



Então, houve a construção de manifestações contrárias à inteligência: a concepção de arte e história, ficção e verdade. O que com os tempos modernos e o crescimento do racionalismo, vai culminar na acentuada contraposição desses termos.

Antonio Celso Ferreira (2000) nos fala que a poesia, arte e a ficção seriam desqualificadas como modos do conhecimento do real, passando a ser de um mundo fantasioso para o artista ou metafísico para o intelectual.

Em contraposição, temos as ciências da objetividade, racionalidade que cumprem funções úteis para a sociedade, solidificando a separação entre arte e ciência. E segundo Costa Lima (1984, p.31) houve “um verdadeiro veto ao ficcional, um controle ao imaginário, decorrente do racionalismo, pôde ser assistido desde meados do século XVIII, atravessando os mais variados discursos, até mesmo os artísticos”.

Com o Romantismo procurou-se valorizar a literatura ficcional, manifestando uma aversão para a ciência. E no século XX, por mais que abandonados esses ideais românticos, com o científico, buscou-se assegurar o literário e o estético com singularidade diante das ciências.

E mais uma vez as idéias aristotélicas entrariam em cena para demarcar posições. O verossímil para Calíope e o verdadeiro para Clio. Aquino (1999, p.16) coloca para a Literatura o verossímil como a impressão de verdade, não necessariamente falsa, que se inclui no espaço ficcional e para a História o verdadeiro no sentido da representação do acontecimento particular.

Com isso, se propagou no século XIX e até algumas décadas do século XX, a noção de campos distintos para História e Literatura. E a História acabou por se autodenominar como a única possibilidade de registro do passado, não sendo reconhecida tal capacidade para a Literatura.

A aproximação se dá através da crise de paradigmas de interpretação do real na passagem do século XX para o XXI. Pesavento (1995) coloca que o debate sobre a história e suas conexões com os gêneros literários já estava colocado desde a década de setenta do século passado.

Dentro e respaldada por uma prática interdisciplinar essa abordagem vem crescendo e interrogando as fronteiras instituídas do conhecimento. Encontrando terreno fértil nos trabalhos com o imaginário e no embasamento da História Cultural ou da Nova História Cultural de Lynn Hunt (1992), onde discute a expansão das fronteiras da História, procurado respostas à pergunta: como a narrativa histórica representa a realidade?

O texto literário, na tentativa de contribuir para a resposta da questão, traz consigo a expressão ou sintoma de formas de pensar e agir. Ricoeur (1983/5) nos coloca diante da possibilidade de pensar a Literatura na relação da História como um inegável e recorrente testemunho de seu tempo. Pois utilizando as palavras de Pesavento (2006) “a Literatura registra a vida”. Sendo esta uma das metas mais buscadas nos domínios da História Cultural e esta, a partir de seus pressupostos e preocupações, proporciona uma abertura dos campos de pesquisa para a utilização de novas fontes e objetos, entre as quais se encontra o texto literário.

Assim nos diálogos entre Clio e Calíope, evidência-se que a Literatura é uma fonte para o historiador, de certa forma privilegiada, por lhe dar acesso ao mundo do imaginário. Coisa que outras fontes não lhe dariam, porque a Literatura é narrativa que, de modo ancestral, pelo mito, pela poesia ou pela prosa romanesca fala do mundo de forma indireta, metafórica e alegórica.

Conforme Pesavento (2006) a coerência de sentido que o texto literário possui é o fundamento necessário para que o olhar do historiador se guie para outras fontes e nelas enxergue o que antes não havia visto. Nesta dimensão, a Literatura inaugura um algo a mais como possibilidade de conhecimento de mundo.

Gosto das palavras de Pesavento (2005, p.113), ao expressar que:

Neste cruzamento que se estabelece entre a História e a Literatura, o historiador se vale do texto literário não mais como uma ilustração do contexto em estudo, como um dado a mais, para compor uma paisagem dada. O texto literário lhe vale como porta de entrada às sensibilidades de um outro tempo, justo como aquela fonte privilegiada que pode acessar elementos do passado que outros documentos não proporcionam.


Falar sobre as relações entre História e Literatura dá muito que questionar. Porém o que quero deixar claro é a possibilidade de trabalho unido e interdisciplinar entre essas duas construções de mundo, porque tanto Clio quanto Calíope podem e devem ser trabalhadas juntas.

Dentro deste trabalho monográfico não pretendo prolongar o debate sobre as relações entre os dois campos do saber, mas sim levantar uma problemática do uso para a resolução de um questionamento que serve de objeto de estudo comum.

Ao dialogarem Clio e Calíope se enriquecem e abrem as portas para novas abordagens e questionamentos. As duas narrativas se empenham no esforço de registrar a vida, re-apresentar o real e, mesmo que suas estratégias de argumentação possam ser diferentes, um diálogo ou um cruzamento de olhares entre os domínios das duas Musas pode ser muito gratificante, como também, bastante esclarecedor (Pesavento, 2000, p. 8).

Tanto a Literatura, quanto a História contribuem para a atribuição de uma identidade, social e individual, provocando modelos de comportamento, expressando as forças sociais e do poder, possuem e criam condições para a coesão social.

Na contemporaneidade, busca-se mais do que nunca, a quebra das fronteiras entre os campos do saber ou áreas do conhecimento. Procura-se uma prática interdisciplinar que possibilite a resolução de novos problemas, os quais necessitam de diversos olhares. E, que, na maioria das vezes são oriundos de problematizações de diferentes campos que se encontram na busca de respostas.

Assim, com esse novo olhar, Clio e Calíope se encontram para trocarem idéias e experiências. Partilharem juntas como Musas-irmãs de novos questionamentos na busca de procurar resolvê-los.

Nesse encontro onde acontece o diálogo, há a construção. Construção essa de conhecimentos, valores, paisagens, costumes, linguagens, mentalidades, padrões, paradigmas e visões de mundo. Que contribuem para a descoberta de novos mundos, onde as personagens que os compõem podem ser tanto os indivíduos pelos quais nos esbarramos diariamente ou aqueles que existem e habitam nossa imaginação, que são reflexos do tempo e do espaço em que vivemos, e que estão presentes nos constantes diálogos entre Clio e Calíope.