quinta-feira, 11 de março de 2010

O VALOR DAS COISAS SIMPLES: Projeto Baú do Tempo



"Tanta saudade preservada num velho baú de prata dentro de mim
Digo num baú de prata porque prata é a luz do luar"
(Gilberto Gil - Back in Bahia)



O presente projeto nasceu da iniciativa de um trabalho pedagógico centrado na construção do conhecimento através da ludicidade, explorando a história e o patrimônio municipal tendo como base a própria cultura material e para isso encontramos um parceiro perfeito: o museu.

O museu não é um “depósito de coisas velhas”, ele é um lugar de construção de conhecimentos e de identificação, tanto individual quanto coletiva. Mas para ele exercer esse papel deve apresentar certas características que aproximem a educação formal (a escola) da educação não formal (o museu, o arquivo, o patrimônio, etc.).

Essas características são as que ajudam a desmitificar a idéia de museu como algo chato, voltado somente para o passado, onde, na maioria das vezes, os visitantes não se sentem como parte integrante desse processo histórico, justamente por não haver uma identificação do sujeito com o local, com os objetos e com a própria história.

Assim o projeto “Baú do Tempo” procura reafirmar algumas dessas características de museu como espaço dinâmico, participativo, construtivo, investigativo, problemático e prazeroso. No momento em que a visitação ao museu não será mera passagem entre os objetos, mas sim uma problematização, contextualizando o visitante com a história de sua vida, de seu município, estado ou país. Ficando claro, que o visitante também faz parte do processo histórico e que possui a sua própria historicidade.

As atividades do museu fazem parte de um processo, o qual, muitos profissionais da área, chamam de processo museológico, que pode ser entendido pela investigação (pesquisa), preservação (coleta, documentação, conservação) e comunicação (exposição, ações educativas). Para quem os museus desenvolvem esse processo? Devemos pensar na sociedade como principal beneficiária, afinal, o museu é uma instituição a serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, aberta ao público, segundo o Conselho Internacional de Museus (ICOM) e o Departamento de Museus e Centros Culturais, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (DEMU/ IPHAN).

O processo museológico tem como referência o patrimônio cultural. E através dele é possível que o indivíduo tenha maior interação com a realidade em que vive sendo capaz de interpretá-la, de entender sua historicidade, de perceber seu papel enquanto ator social. Democratizar o uso e acesso do patrimônio cultural é tarefa das instituições museológicas.

De acordo com o Professor Doutor Camilo Vasconcellos “devemos reconhecer que o museu pode converter-se em instrumento para fortalecer as identidades e a integração das comunidades e dos povos, promovendo a tolerância, o respeito mútuo e a aceitação da diversidade cultural”. Assim, é possível compreender que o museu tem uma função social e que profissionais de museu e outros profissionais que trabalham com o patrimônio cultural têm uma responsabilidade social.

Procuramos, com esse trabalho, dar ênfase num novo olhar para a história, através de novas abordagens, que no caso será o museu e seu acervo, o patrimônio municipal, o uso de imagens, do trabalho lúdico e de diferentes metodologias que auxiliam no processo de ensino e aprendizagem, centrado nos princípios e teorias da Nova História Cultural, a qual nos dá múltiplos questionamentos às mais diferentes fontes pois é ela que traz essa nova forma de tratar a cultura. Segundo Pesavento (2002 : 15) agora trata-se: Não mais como uma mera história do pensamento, onde estudava-se os grandes nomes de uma dada corrente ou escola. Mas, enxergar a cultura como um conjunto de significados partilhados e construídos pelos homens para explicar o mundo.

Se ao visitar um museu, um indivíduo tentar estabelecer relações entre o acervo e sua própria época, começará a perceber que muita coisa vai ganhar sentido. Afinal, o que se construiu ontem reflete no hoje. O ser humano necessita saber sua origem, o porquê das coisas.

Por isso desenvolvemos o projeto Baú do Tempo, onde uma das atividades realizadas é justamente o levar o museu até a escola, onde um baú itinerante com peças do acervo do Museu Municipal Pedro Palmeiro, fotos antigas e fotos atuais da cidade, os chamados “kits” vão para a escola, num trabalho inovador integrando os conteúdos de aprendizagem à educação patrimonial, a consciência histórica, a memória, o urbano, a investigação e análise de mentalidades de épocas diferentes confrontadas com a realidade do educando, criando assim a noção de “fazer história”.

Outra ação importante que o Projeto Baú do Tempo, passou a desenvolver a partir do ano de 2009, foi a oferta de pequenos Cursos de Formação Continuada, como no caso do Curso “O Papel da Sociedade em Relação ao Patrimônio”, com duração de 60 horas distribuídas de março a dezembro, em encontros nas sextas-feiras a noite. Esse curso contou principalmente com acadêmicos do Curso de Ciências Sociais, como também, dos Cursos de História e Pedagogia, visto como semeadores de uma prática educativa, a qual oportuniza, de maneira interdisciplinar, a Educação Patrimonial.

Sendo que, para este trabalho, é de extrema relevância a parceria com as escolas, pois é necessário que desde cedo o indivíduo internalize a importância do patrimônio na sua vida e crie o gosto pela visita a exposições culturais. Para que isso aconteça, é necessário que professores, coordenadores e diretores abracem a causa.

O museu (ensino não-formal) não pode substituir a escola (ensino formal). Cada um possui seu papel, que não deve ser ignorado. O que destacamos é a parceria entre as instituições, importante tanto para a preservação do patrimônio como para o aproveitamento do mesmo na vida dos alunos. Salientamos a importância do museu para o processo de ensino e aprendizagem, acreditando que o mesmo é um lugar vivo e dinâmico, onde a tradição pode ser conhecida, percebida, questionada e reinventada (SANTOS 1997).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HUNT, L. Nova História Cultural. São Paulo: Martins Fontes, 1995.

MINISTÉRIO DA CULTURA/IPHAN. Política Nacional de Museus. Brasília, 2003.

PESAVENTO, Sandra J. História e história cultural. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.

POLÍTICA NACIONAL DE MUSEUS: Programa de Formação e Capacitação em Museologia – Eixo 3/ Ministério da Cultura do Brasil, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Departamento de Museus e Centros Culturais; organizado por Maria Célia Teixeira Moura Santos. Salvador: MINC/IPHAN/DEMU, 2005. (relatório 2003-2005).

SANTOS, Maria Célia T. Moura. Museu e Educação: conceitos e métodos, 2001.

VASCONCELLOS, Camilo de Mello. Museus, Turismo e Lazer: uma realidade possível. Disponível em: http://www.unisantos.br/pos/revistapatrimonio, acessado em 01/12/2007.

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