segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O TURISMO DE EVENTOS NA TERRA DOS POETAS

És tu Santiago, meu rincão agreste,
Bendito, pelo encanto destas tardes,
Pelas horas de sonho que me deste!

Tarde Campeira - Zeca Blau


O município de Santiago, RS, está em processo de afirmação de uma identidade cultural a partir da denominação de “Terra dos Poetas”, traz consigo um número expressivo de eventos artístico-culturais e de negócios, os quais podem ser explorados através do setor de Turismo, auxiliando no desenvolvimento local, na prestação de serviços, na geração de emprego, renda e na consolidação de suas produções e potencialidades. O que se pretende com o referido trabalho é justamente refletir sobre a possibilidade de se investir no Turismo aliado a propostas de desenvolvimento local e na solidificação de uma identidade cultural, que por sua vez é objeto turístico, merece e necessita ser trabalhada como tal.

Por mais que o Turismo seja hoje um fenômeno social novo, ele encontra-se em plena expansão com grande capacidade e diversidade de exploração e estudo. Faz-se necessário desmitificar a idéia de que a atividade turística deva pensar exclusivamente no retorno financeiro imediato, pois o Turismo foi, desde os jogos helenos na Idade de Ouro, e continua a ser na contemporaneidade, um grande instrumento de aproximação humana e fonte de cultura e interações sociais.

Cabe lembrar que os investimentos no setor do Turismo trazem retorno a longo prazo, na medida em que há a consciência coletiva em prol da melhoria da oferta turística, da necessidade de investimentos constantes, da qualificação e da diversificação dos serviços prestados e o principal de tudo, que a comunidade sinta-se responsável em auxiliar a atividade turística em sua localidade. Por exemplo, como vender a idéia de uma “Terra dos Poetas” se seus moradores não têm conhecimento da produção e dos produtores artísticos e o pior, que não sintam a importância de divulgá-los e muito menos de se orgulharem dessas produções. Então de nada adianta os investimentos para atrair visitantes se a comunidade local não está abraçada a causa e motivada a contribuir.

Mas assim como o Turismo, as mentalidades e as identidades são construídas ou alteradas em processos longos e não imediatos. Por isso é necessário se criar políticas públicas que vislumbrem a construção dessas bases, incentivando as ações em prol do fortalecimento do Turismo, da Educação Patrimonial e, sobretudo da valorização da História Local.

A história da humanidade nos relata que desde os primórdios o ser humano cultiva o espírito turístico, seja por curiosidade do desconhecido, necessidade de arriscar-se, de desbravar, de ampliar margens econômicas, ou até mesmo em questão de sobrevivência.

Os discursos em torno do Turismo são levantados em várias áreas do conhecimento como na Administração que procura gerir os processos de aplicabilidade econômica dos recursos oriundos das atividades turísticas, como também, criar mecanismos que dinamizem as ofertas e incentivem o empreendedorismo na área. Há a discussão no campo das Ciências Humanas, como é o caso da História que objetiva analisar a amplitude turística de uma localidade em relação a sua cultura, seja ela material ou imaterial, incentivando a Educação Patrimonial, a construção de identidades e o uso das mesmas como objeto turístico. Pois sabe-se, como coloca BENEVIDES (1996), que a manutenção da identidade cultural dos lugares, tendo na comunidade os atores do processo, favorece o estabelecimento de pequenas operações com baixos efeitos impactantes de investimentos.

Segundo DIAS (2003), grande parte dos municípios brasileiros possui atrativos que justificam a vocação para o Turismo, sendo defendido pelos economistas como uma atividade rentável e ressaltado por estudiosos como benéfico no que diz respeito à melhoria da infra-estrutura urbana e de acessos, geração de rendas, de impostos e de empregos, geração de divisas, reativação de certas atividades econômicas e enriquecimento cultural. Por essa razão que a maioria dos prefeitos desses municípios o inclui em seus planos de governo, como mola propulsora de desenvolvimento socioeconômico.

É realidade que o Turismo é o setor da economia que mais cresce na atualidade, já tendo alcançado o status de principal atividade econômica no mundo. Superando setores tradicionais como a indústria automobilística, a eletrônica e a petrolífera. Segundo dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo, é uma atividade que tende a crescer 7,5% ao ano nos próximos 10 anos, movimenta cerca de US$ 3,4 trilhões (10,9% do PIB mundial) e emprega 204 milhões de pessoas (10% da força de trabalho global), além de possuir um número incalculável de atividades relacionadas.

Por essa razão o Turismo tem grande papel frente o desenvolvimento local, uma vez que tenham estratégias de exploração que priorizem esse objetivo de dinamizar a economia de uma localidade a partir de suas potencialidades. Procuro discutir nesse trabalho esse enfoque, voltado aos eventos realizados em Santiago, uma vez que, são poucos os atrativos turísticos naturais ficando evidenciado a sobreposição do Turismo de Eventos em relação às outras formas de exploração turística.

No calendário municipal, os santiaguenses contam com uma vasta agenda de shows, torneios, feiras e festivais, os quais devem ser trabalhados para atrair investimentos externos, ou seja, dinheiro dos turistas. Que ao visitarem a cidade para um Festival de Teatro, por exemplo o Santiago Encena, acabem consumindo nos estabelecimentos, mas também levando imagens agradáveis dos espaços da cidades, que servirá de estímulo para futuras visitas.

Para CAVACO (1996), o turismo ligado ao desenvolvimento local se assenta na revitalização e na diversificação da economia. Possui plena capacidade de fixar e atrair a população com êxito no sentido de assegurar melhores condições de vida. Apresenta, também, considerável sucesso na valorização da produção de produtos agrícolas, além de favorecer os planos de desenvolvimento do artesanato e outras atividades ligadas ao turismo e à cultura, a exemplo das feiras e festas tradicionais e populares.

Com isso DIAS (2003) nos diz que a importância do Turismo orientado pelos valores culturais se reflete pelo valor para o conhecimento de uma região, de uma época ou de um modo de viver, através do imaginário e do simbólico de uma comunidade, constituindo-se em Patrimônio e conforme PASSOS (2002) no redespertar dos valores culturais, valorizando as manifestações antropológicas, religiosas, artísticas, folclóricas, artesanais e históricas.

A partir dessas discussões, gostaria de tecer a idéia do uso da identidade cultural “Terra do Poetas”, alcunha esta criada pela Lei de Número 046/98 de autoria do vereador Nelson Peraça Abreu, como objeto turístico para o desenvolvimento local. Servindo como caminho para as explorações econômicas de eventos e tornando-se fonte de renda para vários segmentos da sociedade. É necessário se criar oportunidades para o desenvolvimento de novas metodologias de exploração desta identidade, que não fique apenas restrita a produções literárias. Mas que essas produções sejam fonte para uma gama de novos produtos a serem ofertados que acabam consolidando ainda mais Santiago com a “Terra dos Poetas” e divulgando-a além de suas fronteiras.

Minhas discussões não são findas, são apenas o princípio de inúmeros desafios, não apenas teóricos, como também práticos, cabendo não somente ao Poder Público pensá-las e aplicá-las, mas toda a comunidade deve se sentir parte integrante do processo de desenvolvimento. Pois a comunidade local tem oportunidades de envolvimento em todas as etapas do processo de exploração do turismo, sendo importantíssimo que ela seja parceira e acredite no potencial de sua cidade, seja esse natural, artístico ou histórico.

O Turismo, em sua expansão, é capaz de provocar alterações generalizadas no modo de como as pessoas vêem o mundo e com ele se relacionam. Assim, podemos concluir que o Turismo pode transformar-se em uma rica e significativa fonte de renda ao município, desde que invista em recursos, desde a divulgação, a promoção de eventos e melhorando a infra-estrutura.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRETO, Margarita. Turismo e legado cultural. Campinas, 2000.

BENEVIDES, Irleno Porto. “Para uma agenda de discussão do turismo como fator de desenvolvimento local” In: RODRIGUES, Adyr Ballestrari, (Org.), Turismo e Desenvolvimento Local. São Paulo : HUCITEC, 1996, p. 23-41.

CAVACO, Carminda. Turismo Rural e desenvolvimento local. In: RODRIGUES, A. B. (Org.), Turismo e Geografia: reflexões teóricas e enfoques regionais. São Paulo: HUCITEC, 1996, p. 94-176.

DIAS, Reinaldo. Turismo sustentável e Meio Ambiente. São Paulo : Atlas, 2003.

PADILHA, Pedro Magalhães de. O Turismo. Rio de Janeiro : Bloch Editores, 1972.

PASSOS, Luciana Andrade dos. Paisagem Natural, Patrimônio Cultural e Turismo nos Cariris Paraibanos. Dissertação de pós-graduação. UFPB : João Pessoa, 2002.

PESSAVENTO, Sandra J. História e História Cultural. Belo Horizonte : Autentica, 2004.

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